PT recusa ter falhado no SIRESP e tem dúvidas sobre solução de enterrar cabos

Grupo Altice PT deixou recados e elogiou Marcelo. Críticas do primeiro-ministro não foram referidas

“A nossa declaração hoje não é uma resposta. É a exposição dos nossos factos e daquilo que é a realidade do que fizemos no terreno nos últimos meses”, disse ontem, no final da primeira conferência de imprensa do grupo Altice PT, o administrador Alexandre Fonseca. Não foi uma resposta, mas ficaram vários recados. Num balanço das operações no âmbito dos incêndios, a empresa que há duas semanas foi responsabilizada por António Costa pelas falhas do SIRESP durante o incêndio de Pedrógão Grande garante que cumpriu todas as suas obrigações. “Considerando a forma empenhada com que prestamos todos os nossos serviços, é a nossa mais firme convicção que, como sempre até aqui, a PT tem cumprido e superado inequivocamente com todos os níveis de serviço contratados pela SIRESP SA”, afirmou Alexandre Fonseca, chefe do Gabinete Tecnológico do Grupo.

Logo no início da intervenção, o administrador fez questão de salientar que, apesar de a PT já não ser uma empresa do domínio público, não está menos interessa na defesa do interesse público do que no passado. “Tentam alguns, agora, passar a ideia que por agora assim não ser tenha passado a existir um sentimento diferente em relação ao país. Nada de mais errado. O que se passou no país foi indesejável, foi alarmante, perigoso e até mesmo bastante intimidatório, mas foi para todos e não apenas para alguns”, afirmou Alexandre Fonseca. “.As dificuldades no teatro de operações foram sentidas por todos nós e por todos aqueles que nele operaram, não apenas por alguns. Aliás, é bom que se afirme, em abono da verdade, que a força das chamas, as elevadas temperaturas e ventos ciclónicos não criaram apenas dificuldades mas, em alguns momentos, causaram claras impossibilidades. Honestamente, temos todos de o admitir.”

Recorde-se que, neste último mês, o dossiê SIRESP sofreu novos desenvolvimentos, com o governo a anunciar que iria avançar pela primeira vez com a aplicação de multas contratuais à operadora, da qual a Altice PT é acionista e fornecedora, pelas falhas registadas no incêndio de Pedrógão Grande. Até aqui a PT ainda não se tinha pronunciado mas, numa resposta escrita ao governo, a SIRESP SA tinha considerado ter estado à altura da complexidade do teatro de operações – visão ontem reiterada pela empresa de telecomunicações. Sem nunca se referir ao assunto das multas contratuais ou às afirmações de António Costa – que declarou ao “Expresso” que “o colapso do SIRESP resultou do colapso da rede da PT” – a empresa salientou a disponibilidade e serenidade enquanto acionista durante todo o processo, assim como prontidão na ação enquanto fornecedora de serviço.

No rol de agradecimentos no final da conferência, houve referência ao governo, em particular ao Ministério do Planeamento e Infraestruturas e ao Ministério da Administração Interna, mas o chefe do executivo não foi mencionado. Já Marcelo Rebelo de Sousa foi objeto de uma saudação, pela sua “presença, solenidade, motivação demonstrada no terreno e fora deles, principalmente nos momentos mais conturbados do contexto trágico que vivemos”.

Enterrar cabos? É preciso pôr as coisas “em perspetiva”

Alexandre Fonseca explicou que no incêndio de Pedrógão e concelhos adjacentes arderam 500 quilómetros de cabos, assegurando que foram repostos em menos de uma semana. Os fogos já destruíram este ano mil quilómetros de cabos aéreos, adiantou ainda o responsável.

Uma das críticas públicas do primeiro-ministro à PT prende-se com o enterramento de cabos, visão corroborada pela leitura do Instituto de Telecomunicações que considera que cabos de fibra ótica não são uma solução técnica adequada para usar numa floresta numa rede de segurança e emergência.

Ao “Expresso”, Costa considerou “inadmissível que as redes de comunicação junto as estradas nacionais que já têm calhas técnicas não estejam enterradas e continuem com os cabos aéreos”.

Alexandre Fonseca salientou que o grupo está a trabalhar com o governo, mas disse não ser “líquido” que o enterramento dos cabos nas condutas das Infra Estruturas de Portugal evitasse a sua destruição. “Não há estudos de termodinâmica que o mostrem de forma inequívoca”, disse, acrescentando que testemunharam caixas onde a passagem do fogo causou danos.

Além disso, a PT considera que as condutas da IP, por agora, não garantem a “capilaridade” da rede de telecomunicações, adiantando que permitiriam apenas enterrar 4% a 6% da extensão total da rede. “Diria que é importante colocar em perspetiva o que é o enterramento de cabos”, salientou Alexandre Fonseca. “É necessário continuarmos a estudar em conjunto, lado a lado, com o governo esta solução para percebermos se é alternativa e qual a extensão dessa alternativa, sendo que hoje nos parece que é manifestamente curta face à extensão e capilaridade da nossa rede”.