Maniche: ‘Estou feliz!!! Preparei-me para isto ao longo da vida’

Vai viver para a Madeira e tomar conta dos destinos do Camacha. Vida nova para Nuno Ribeiro, que confessa sempre ter querido assumir o cargo de dirigente de um clube. É o início do futuro!

Um novo tempo. Uma nova vida. Para muitos pode ter sido uma surpresa, mas para quem o conhece nem tanto. A notícia confirmou-se e Maniche e o Camacha estão, a partir de quinta-feira, ligados para os próximos anos.

«E agora José?», perguntava Drummond de Andrade.

«Você marcha, José!/José, para onde?»

E agora Nuno?

Deixará ele de ser simplesmente Maniche, como todos o ficámos a conhecer, e passará a ser  o sr. Nuno Ribeiro, empresário, presidente, dono de clubes?

Camacha: Associação Desportiva da Camacha – fundada no dia 1 de Agosto de 1978.

Pode muito bem andar nos cafundós daquilo que se chama hoje em dia o Campeonato de Portugal.

Mas vem aí uma nova vida.

Maniche não tem dúvidas.

«É certo que irei ser o presidente da futura SAD do clube e o seu principal investidor. Já me inteirei daquilo que é fundamental neste momento, estou a conversar com as pessoas, o contrato já foi assinado, vamos falar e perceber o que é urgente e aquilo que se fará a mais longo prazo».

Nuno, para onde?, pergunto eu em vez de Drummond.

E Nuno: «Trabalhar! Com a consciência de que é preciso tempo e paciência e de que este é um projeto para ser cimentado com tranquilidade. Com sonhos, mas sem precipitações. A situação está, posso dizer-te, a ser analisada com calma. Não vamos criar expectativas erradas nas pessoas». 

Camacha: freguesia do concelho de Santa Cruz, nos arredores do Funchal, a caminho de Santo António da Serra.

Se é conhecida pela qualidade do seu futebol? Eis uma pergunta fácil de responder e é negativa.

Conhecida sim pelo seu folclore.

Mas há muito futebol na Camacha. Um futebol de todos os tempos. Um futebol dos primórdios. Um futebol de antes deste futebol que nós conhecemos agora como o jogo mais fascinante do mundo.

Como assim? Pois fiquem sabendo, se é que não sabem, que na Camacha, mais propriamente na Achada, que se disputou o primeiro desafio de futebol em território português.

Ah! Pois é!

Harry Hinton, um jovem inglês viera de Londres com uma bola debaixo do braço. E eis que  organiza a partida. Estar-se-iam os participantes nas tintas para as regras básicas do jogo? É mais que certo. A coisa era séria mas não a sério. Uma rapaziada divertida com pontapés no couro e com golos nas balizas contrárias.

Seja. Inédito em Portugal!

Nuno, sabias que foi na Camacha que se jogou futebol em Portugal pela primeira vez?

«Claro! Não vim para aqui sem conhecer a realidade do sítio onde quis investir. Tentei saber, tentei entender. Não quero estar aqui como um estranho. Pelo contrário. Quero estar aqui como mais uma pessoa da Camacha, mais uma pessoa de Santa Cruz, um daqueles que comigo vão erguer este trabalho».

Vais viver para a Madeira?

«Vou! Nem se discute. Quero estar presente no dia a dia do clube, quero saber aquilo que necessitam de mim, quero estar completamente atualizado. E, por isso, venho viver para a Madeira com muito gosto, até porque nestes últimos tempos tenho tomado conhecimento com uma realidade que me faz sentir em casa».

Felicidade!

Vitória caseira sobre a Sanjoanense ainda antes do sr. Nuno Ribeiro desembarcar no antigo aeroporto de Santa Catarina, agora muito prosaicamente apelidado de Cristiano Ronaldo.

Este domingo, viagem até Amarante. Curiosamente terra de outro Nuno Ribeiro, mais conhecido por Nuno Gomes, e de Ricardo Carvalho. Dois velhos companheiros de Maniche em muitas batalhas. 

Sempre me disseste que gostarias de ter uma carreira de dirigente. Estás a cumprir um sonho?

«Estou! Estou mesmo! Um sonho que, agora, se tornou realidade. Quando terminei a carreira de jogador, refleti muito. Percebi que queria ficar ligado ao futebol para o resto da vida. Era preciso saber em que posição, com que funções. Trabalhei como treinador, em projetos com o Costinha, mas aquilo para o que verdadeiramente me preparei, para o que criei um cenário, foi  para isto».

Estás sozinho neste investimento?

«Sim. É um investimento meu. O que não quer dizer que não vá, com o tempo, procurar parceiros, gente que possa trabalhar comigo no desenvolvimento desta ideia».

Mas Camacha porquê? Nada te liga à Madeira. És um lisboeta do Bairro da Boavista!

«Fomos ao encontro uns dos outros. Eu estava disponível para este projeto e eles também. O Camacha quer projeção no futebol em Portugal e eu acho que posso dar-lhe essa projeção».

Tiveste de te entender com o presidente Celso Almeida e Silva…

«Fácil! Gente séria na direção do clube».

Mas um risco para ti!

«Ora. Tu conheces-me. Nada me mete medo! Tenho garra, vontade, um gosto enorme por desafios. Sou assim desde que nasci. Sinto-me completamente à vontade para tudo o que me vai surgir pela frente. Sem dúvidas!».

Com noção das dificuldades.

«Vamos aprender! Uns com os outros. Trabalho, paixão! Duas palavras que vêm a propósito. São pessoas humildes que adoram o clube e eu vou ao encontro deles e das suas ambições».

Isso, isso. Ambições. Não podes dizer-me que chegas aqui cheio de promessas imediatas. O que vai acontecer para já?

«A situação foi analisada com toda a calma. Não estou aqui para fazer promessas tontas que não é possível cumprir». 

Então? Que vai acontecer este ano?

«Vamos continuar com o que estava programado. Vou conhecer melhor o clube, os jogadores, os treinadores. Mas com ambição, naturalmente! Faz parte de mim. Se for possível acrescentar qualidade à equipa ainda para este campeonato, não hesitaremos em dar-lhe essa qualidade. Se for possível ambicionar classificação melhor, iremos à  procura. Mas sustentadamente».

O que procuras para a equipa, afinal?

«Neste momento imediato?».

Sim.

«Um campeonato tranquilo, sabendo das dificuldades que se apresentam. Talvez trazer ainda quatro ou cinco jogadores capazes de acrescentarem qualidade. Dar visibilidade ao clube. Torná-lo interessante para quem quiser vir para cá trabalhar. Claro, se for possível lutar pelos lugares de topo, vamos lutar. Mas sem criar falsas  expectativas. Repito: quero que seja um projeto para muito tempo, sustentado. Não vou pôr em causa o que foi feito até ao momento por quem cá está».

O campeonato já começou.

«Por isso mesmo quis assumir de imediato as minhas responsabilidades no Camacha. Venho para a Madeira viver o mais rapidamente que for possível e trabalhar muito desde já».

Estás feliz?

«Estou! Estou muito feliz! E ansioso porque esta era a vida que queria. Acredito muito naquilo que vamos fazer nos próximos tempos e estou convencido de que teremos sucesso. A minha vida mudou.  Vamos para um novo desafio!».

Nuno, e agora?, diria Drummond.

A palavra  é dele. E o gesto também.