A Autoeuropa vai parar durante 24 horas. Trata-se de uma paralisação histórica – arrancou às 23h30 de ontem e termina esta meia-noite – e vai custar à fábrica de Palmela a produção de menos 400 carros. Em causa está o braço de ferro entre a administração da empresa e trabalhadores devido à mudança de horários e à necessidade de trabalhar mais um dia, de forma a permitir o aumento da produção, que deverá atingir mais de 200 mil automóveis em 2018. Ou seja, o dobro do registado em 2016, graças à chegada do novo modelo, o SUV T-Roc.
A Comissão de Trabalhadores e a administração da fábrica de Palmela ainda chegaram a um pré-acordo para os novos horários e turnos, que incluía uma compensação financeira de 175 euros acima do valor previsto na legislação (ver ao lado). Mas a proposta foi rejeitada pela maioria dos trabalhadores , tendo contado apenas com 23,4% de votos favoráveis, num universo de 3472 votantes, o que motivou a demissão da CT. A greve acabou por ser convocado pelo SITE Sul – Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul, afeto à CGTP, que está otimista em relação à adesão. “É expectável que haja uma grande adesão e espera-se uma resposta da administração à exigência dos trabalhadores”, refere ao i José Silva, da direção do SITE Sul.
Segundo o responsável, a proposta em cima da mesa “é gravosa do ponto de vista social, pessoal, familiar. Para que haja um espaço de abertura para o diálogo é imperativo que a administração retire essa imposição de mudança de horário de trabalho”.
Greve ameaça produção O diretor-geral da Autoeuropa, Miguel Sanches, ainda acredita num acordo laboral na fábrica e espera pela eleição da nova comissão de trabalhadores para voltar à mesa de negociações. “O nosso objetivo será sempre chegar a um acordo que convenha às duas partes de forma a que os objetivos de crescimento, de emprego e de produção sejam cumpridos”, revelou.
Ainda assim, a fábrica de Palmela já veio alertar para os riscos da falta de entendimento, podendo existir a possibilidade de a produção do T-Roc ser, pelo menos parcialmente, deslocalizada. “É um cenário que está em cima da mesa, mas tanto a administração como toda a equipa da Autoeuropa irão fazer o possível para manter toda a produção do carro em Portugal”, afirmou Sanches, lembrando ainda que “o T-Roc foi um modelo exclusivamente escolhido para ser produzido na Autoeuropa”.
Um risco que não é bem visto por José Silva. “Se estas declarações visam amedrontar, chantagear ou de alguma forma coagir os trabalhadores achamos que isso é totalmente irresponsável e rejeitamos por completo esse tipo de afirmações”, refere ao i o dirigente do sindicato, lembrando ainda que “a empresa tem uma capacidade muito alargada de produção”.
Para já, a fábrica revelou que está a contratar cerca de dois mil colaboradores, dos quais 750 são para implementar um sexto dia semanal de produção. “O modelo de trabalho previsto tem enquadramento legal, e a empresa pretende reconhecer o trabalho aos sábados como o quinto dia de trabalho individual com um pagamento adicional ao previsto na lei”, diz a empresa.
Negociações paradas Como a comissão de trabalhadores está demissionária vai ser preciso convocar nova direção para retomar as negociações com a empresa. Um processo que poderá arrastar-se durante 60 dias, apurou o i. Ainda não há data para a eleição da nova CT. Para já, terá de ser eleita a comissão eleitoral. A lei prevê que as eleições só poderão ser marcadas 30 dias após a eleição da comissão eleitoral. “É um processo que poderá arrastar-se até meio ou final de outubro”, revelou fonte ligada ao processo.
Até lá, o SITE SUL vai continuar a reunir-se com os trabalhadores para discutirem novas formas de luta caso se justifique.
Durante este mês de agosto, a Autoeuropa começou a produzir o novo modelo, que foi apresentado ao mundo na passada quarta-feira em Itália e será comercializado a partir do último trimestre do ano. O T-Roc irá competir com modelos como o Nissan Juke, o Renault Captur, o Mercedes GLA ou o Seat Arona, também do grupo Volkswagen.
Recorde-se que a fábrica de Palmela recebeu um investimento de 667 milhões de euros na instalação de uma nova plataforma multimodal, que permite a produção de vários modelos.