PIB depende do futuro da Autoeuropa

Produção da fábrica de Palmela é vital para alcançar as metas de crescimento e orçamentais.

O Governo está apreensivo com o conflito que opõe a administração aos trabalhadores da Autoeuropa e que culminou esta semana numa greve histórica que fez parar a produção da fábrica de Palmela. A situação não é para menos. Na Autoeuropa assenta grande parte do sucesso da economia portuguesa.

Os números históricos de recuperação que o ministro das Finanças anunciou na semana passada viriam por água abaixo caso, por exemplo, o conflito laboral chegasse a um ponto em que a fábrica alemã acabasse por decidir que o novo SUV – T-Roc – já não seria produzido em Portugal.

Na última sexta-feira de agosto Mário Centeno convocou os jornalistas para comentar os dados da economia e garantir que a “execução orçamental permite antecipar o cumprimento dos objetivos orçamentais para 2017”.

O Orçamento do Estado para este ano prevê um crescimento do PIB de 1,8% e de 1,9% no próximo. No entanto, ao longo do ano o Governo tem admitido que o crescimento poderá ser de 2,5%.

Este é o valor que o Banco de Portugal (BdP) aponta para a subida do PIB em 2017, o valor mais alto, a par de 2007, desde o ano 2000. O fundamento para esta previsão é o disparo de 10% das exportações. Nos seus boletins de primavera e de verão o BdP já chamara a atenção para o impacto positivo que a fábrica trará à economia.  Em junho, além do contributo das exportações de serviços – turismo – que irão continuar a crescer, a instituição destacava que as vendas de Portugal ao exterior iriam ainda beneficiar «no final de 2017 e ao longo de 2018 do aumento previsto da capacidade produtiva de uma unidade industrial do sector automóvel».

A Autoeuropa representa mais de 1% do PIB e as exportações são 3,7% do total das vendas que Portugal faz ao exterior.

Na quinta-feira, o Instituto Nacional de Estatística revelou o PIB do segundo trimestre. A economia portuguesa cresceu 2,9% no segundo trimestre deste ano em termos homólogos e 0,3% face ao trimestre anterior, o que leva os especialistas a admitir que o crescimento de 2,5% poderá ser alcançado. Mas a situação de conflito laboral na Autoeuropa poderá condicionar o objetivo, algo que foi salientado pelo Presidente da República. «Não é indiferente a capacidade de exportação da Autoeuropa no resultado do crescimento económico no final do ano», disse Marcelo Rebelo de Sousa.

«A Autoeuropa tem um contributo decisivo no crescimento económico português, quer através do modelo que arranca agora, quer através de outros futuros possíveis modelos, e é importante para Portugal que esse contributo esteja presente», acrescentou.

 

Estabilidade

Também o primeiro-ministro  considera «inequívoco» que a empresa é  «da maior importância» para o crescimento económico do país e que a estabilidade na Autoeuropa é importante para a produção de um novo veículo. O T-Roc é um modelo que é produzido em exclusivo na Autoeuropa e a Volkswagen acredita que até 2027 deverão existir 11 milhões destes veículos, que deverão gerar 40% das vendas da marca nos próximos anos.

No entender do Fórum para a Competitividade (FpC), o T-Roc é essencial para o futuro da Autoeuropa. «É a oportunidade para a Autoeuropa aumentar a produção para níveis nunca alcançados», diz o organismo liderado por Pedro Ferraz da Costa.

Para o FpC, «a organização dos tempos de trabalho não poderá deixar de se ajustar ao novo paradigma de produção, incluindo alguns sacrifícios pessoais da sua força de trabalho atual, com as devidas contrapartidas e reforço da sustentabilidade do seu emprego».

Assim, «beneficiarão ainda os 2000 novos empregados e as suas famílias e o país, que melhorará a sua riqueza, exportações e receitas fiscais. Boa parte do potencial de crescimento de Portugal assenta no sector automóvel», conclui .