Os casos são raros, mas quando são conhecidos enchem manchetes e geram consternação no mundo inteiro. Esta semana, as autoridades da Alemanha revelaram que um enfermeiro condenado em 2015 por matar dois doentes com overdoses de medicamentos para o coração é agora suspeito de ter matado pelo menos 90 pessoas entre 2000 e 2005.
Muitas vezes conhecidos ou autointitulados de «Anjos da Morte», estes profissionais de saúde são assassinos em série que matam nos hospitais ou outros locais de saúde, a maioria das vezes os doentes mais frágeis e vulneráveis.
Depois de «134 exumações e centenas de testemunhos, podemos provar 90 assassinatos», revelou à comunicação social o responsável da investigação a Niels Högel, um assassino em série e um caso «excecional» na História contemporânea, recheada de vários. Apesar de só conseguirem confirmar 90 assassinatos, as autoridades acreditam que o número de homicídios cometidos por Högel é superior.
Em junho de 2016, mês em que a investigação ao enfermeiro alemão ainda decorria – na altura suspeitava-se que teria morto 33 pessoas –, um tribunal da Dinamarca condenava a enfermeira Christina Hansen a prisão perpétua pelo homicídio de três doentes e a tentativa de assassinato de um outro através da sobredosagem de sedativos e morfina. Alguns meses depois, em outubro, a enfermeira canadiana Elizabeth Wettlaufer, 49 anos, foi presa e acusada a morte de oito pessoas idosas num lar, mais uma vez com a administração de drogas.
Este caso figura entre os maiores de assassinatos em série da história do Canadá, país que, no início de 1980, foi abalado pelas notícias da morte de 36 bebés num hospital Pediátrico de Toronto. Uma jovem enfermeira esteve sob suspeita, mas nunca se soube quem foi responsável pela mortes.
Um estudo académico recente publicado no mesmo país, intitulado de «Homicídios em Série por Profissionais de Saúde», afirmava que os homicídios múltiplos em ambiente médico eram um «fenómeno pouco compreendido mas cada vez mais identificado». O trabalho analisou mais de 90 investigações criminais de profissionais de saúde desde 1970 que encaixavam na definição de assassinos em série e excluiu os casos de suicídio assistido, homicídios individuais e «os médicos ou enfermeiros de ocasião» acusados de terem administrado narcóticos letais a doentes terminais. O estudo revela que, em alguns dos casos, a eutanásia foi usada como justificação para os crimes.
De acordo com o estudo, os enfermeiros foram os acusados em 86% dos casos de assassinatos em série por parte de profissionais de saúde. Médicos e outras pessoas dos hospitais perfazem os restantes 14%. As razões identificadas para os homicídios incluem a excitação de tentar reanimar um paciente ou uma espécie de «versão profissional do síndroma de Munchausen por procuração». O síndrome de Munchausen é uma doença psiquiátrica em que o doente de forma compulsiva, deliberada e contínua, causa, provoca ou simula sintomas de doenças para obter cuidados médicos ou de enfermagem. O síndrome de Munchausen por procuração ocorre quando um pai produz sintomas no seu filho, fazendo que este seja considerado doente. O enfermeiro alemão Niels Högel admitiu induzir ataques cardíacos a quase 90 doentes porque gostava da sensação de os reanimar.
Outros motivos incluem obter uma «satisfação sádica» com o assassinato de certos doentes, ou em casos mais raros, de lucro financeiro.
O estudo revela ainda que muitos poucos dos «Anjos da Morte» tinham registo criminal anterior, mas muitos tinham «falsificado os seus documentos e outros aspetos do seu percurso».
Durante o seu julgamento, Högel pediu desculpas aos familiares das vítimas. O tédio foi apresentado como um motivo para os seus crimes – e as e injeções serviriam para levar os pacientes ao limiar da morte, com o objetivo de os trazer de volta à vida.
Anjos da Morte famosos
Enfermeiras de Lainz, Áustria
Os Anjos da Morte de Lainz eram quatro enfermeiras do hospital de Lainz em Viena. Começaram a matar em 1983 e disseram que o faziam por piedade. Como todos os doentes tinham mais de 75 anos as suas mortes passaram despercebidas, e aí começaram a matar doentes de quem não gostavam ou os casos mais complicados. Foram apanhadas em 1991. Admitiram ter matado 48 doentes, mas a polícia acredita que o número é superior a 200. As quatro foram libertadas com novas identidades.
Charles Cullen, EUA
Charles Cullen trabalhou em vários lares de idosos e hospitais de Nova Jérsia e da Pensilvânia nos anos 1990 e 2000. Condenado por 29 mortes, alega ter morto 40 pessoas e de ter tentado matar muitas mais durante os 16 anos como enfermeiro. O seu método de eleição era a injeção letal – na maior parte usava uma substância conhecida como Digoxin, subtil o suficiente para o ajudar a escapar à captura durante quase duas décadas. Foi apanhado quando se entusiasmou e matou 13 doente em menos de um ano. Cumpre 11 penas perpétuas.
Richard Angelo, EUA
Nos anos de 1980 Richard Angelo era um enfermeiro no Hospital dos Bons Samaritanos em Nova Iorque. Confessou que drogava os doentes para lhes causar um problema respiratório para depois intervir e ser o herói do dia. Tendo sido bombeiro voluntário gostava de ser visto como herói. Também revelou ter problemas de autoconfiança e sentimentos de desadequação. 25 dos 37 doentes drogados por Angelo acabaram por morrer. Foi condenado a 61 anos na prisão pelos seus crimes.
Benjamin Geen, Inglaterra
Entre dezembro de 2003 e fevereiro de 2004, um número anormal de doentes do Horton General Hospital do Reino Unido tinha dificuldades respiratórias. As suspeitas recaíram sobre Benjamim Geen, depois de ser ter percebido que todos os problemas aconteciam no seu turno e que o enfermeiro se entusiasmava quando os doentes eram reanimados. Matou dois doentes e feriu 15, administrando sobredoses de relaxante muscular ou de analgésicos. Foi condenado a 17 prisões perpétuas pelos crimes.
Stephen Letter, Alemanha
Stephen Letter trabalhou em Sonthofen entre 2003 e 2004. Neste período matou 28 do seus doentes. A maioria das vítimas tinha pelo menos 70 anos e, por isso, as mortes passaram despercebidas durante algum tempo. Por fim revelou que matou os doentes para acabar com o seu sofrimento, mas nem todos estavam em estado crítico. Depois de terem sido exumados os corpos de 42 doentes, Letter foi acusado do assassínio de 12, do homicídio involuntário de 15 e de uma eutanásia.
Genene Anne Jones, EUA
Genene Anne Jones usou relaxantes musculares para matar as suas vítimas, exclusivamente bebés. Jones trabalhava como enfermeira pediátrica no Centro Médico do Condado de Bexer em San Antonio, EUA. Em 1981 este condado tinha uma taxa de mortalidade infantil anormalmente alta e as crianças morriam de causas que nada tinham a ver com as que as haviam levado ao hospital. A maior parte das crianças era doente de Jones e morreu no seu turno. Só se provou um homicídio, mas suspeita-se de 46.
Efren Saldivar, EUA
No final dos anos de 1990, Saldivar era trabalhava como terapeuta da respiração no Glendale Adventist Medical Center. Assassinou os seus doentes, em especial os mais velhos, injetando um relaxante muscular. Foi condenado por seis homicídios consumados e um tentado. Foi condenado a sete penas de prisão perpétua consecutivas por estes sete casos e chegou a admitir que tinha provavelmente morto 200 pessoas ou mais não os tratando deliberadamente ou drogando-os.
Kristen Gilbert, EUA
Kristen Gilbert era uma enfermeira do Centro Médico para Veteranos de Guerra no Massachusetts quando matou quatro doentes. A sua arma de eleição foi a injeção de epinefrina. Durante a investigação às quatro mortes, Gilbert esteve presa durante 15 meses por ameaçar colocar uma bomba no centro. Acabou por ser condenada por quatro homicídios e ainda a tentativa de outros dois. Apesar de ter matado em terreno federal, o que permite a condenação à morte, foi sentenciada a prisão perpétua.