Para o presidente do Deutsche Bank, “ a era do dinheiro barato na Europa tem de chegar ao fim, apesar do euro forte”. A garantia foi dada por John Cryan, CEO do banco alemão, defendendo assim o fim dos estímulos monetários pelo Banco Central Europeu (BCE). “Estamos a assistir a sinais de bolhas em cada vez mais setores do mercado de capitais”, alertou Cryan, navéspera da reunião de política monetária do BCE.
Apesar de não estar previsto o anúncio de medidas concretas por parte do regulador, os investidores acreditam que sejam dadas pistas sobre o futuro da política monetária, nomeadamente sobre o início da retirada de estímulos.
Em causa está o programa de compra de ativos levado a cabo pelo Banco Central para fazer frente à crise financeira. E no âmbito da aplicação destas medidas, o regulador já injetou mais de dois biliões de euros na economia, uma medida que tem provocado divisões no seio da região, nomeadamente críticas por parte da Alemanha.
No encontro de hoje, o conselho de Governadores irá analisar o crescimento económico e inflação na zona euro, depois de ter já referido que a recente apreciação da moeda única poderá ser um risco. O programa está agendado até ao final do ano, a um ritmo de 60 mil milhões de euros por mês.
No entanto, tudo indica que, o BCE não vai querer uma retirada abrupta desta medida, uma vez que poderia criar um choque nos mercados e, com o fim à vista, a especulação aumenta em relação ao plano de retirada, o chamado tapering. Da mesma forma, está previsto que as taxas de juro, atualmente em mínimos históricos, aumentem apenas depois do fim das compras.
“Com uma economia saudável por um lado e um euro em ascensão por outro, o BCE quer flexibilidade quanto ao início do tapering. Deve ter em consideração o debate no seio do BCE sobre o como anunciar o sua abordagem ao tapering, devendo ainda os investidores esperar que o banco central mantenha por agora a sua comunicação vaga”, referiu Franck Dixmier, global head de fixed income da Allianz Global Investors.
Para o especialista, o BCE enfrenta um “dilema”, que torna a posição do banco central em relação ao futuro num “desafio particularmente difícil”. “Por um lado, uma economia saudável a apresentar crescimento e inflação maiores do que o esperado é um argumento persuasivo para o BCE iniciar a redução do programa de compra de ativos. Por outro, a recente subida do euro – que é equivalente a uma retração nas condições financeiras – é um argumento para o banco central persistir na sua política monetária acomodatícia por mais algum tempo”, diz a AllianzGI.
Na visão do especialista, os investidores não deverão ficar surpreendidos se o BCE anunciar a intenção de estender o programa de compra de ativos até 2018 e arrancar com a retirada dos estímulos progressivamente no próximo ano. As dúvidas no seio da própria instituição deverão levar a que uma decisão definitiva só seja tomada na próxima reunião do Ban co Central Europeu.