Dez anos volvidos da tomada da Faixa de Gaza, o Hamas está finalmente disposto a reatar as conversas com a Fatah, a quem deixara a gestão administrativa dos territórios palestinianos na Cisjordânia. O movimento islamista deu este domingo luz verde à dissolução do governo que administra aquela língua de terra encravada entre Israel e o Egipto, e mostrou-se disposto a avançar para um ato eleitoral, com vista à “unidade nacional” dos territórios da Palestina.
“Em resposta aos esforços generosos egípcios, que refletem o seu desejo em acabar com as divisões e em alcançar a reconciliação, e tendo em conta o nosso próprio desejo de atingir a unidade nacional (…), o Hamas convida um governo de consenso a vir prontamente à Faixa de Gaza cumprir a sua missão e desempenhar as suas funções, e acorda com a realização de eleições gerais”, lê-se no comunicado divulgado pelo Hamas, que resulta das negociações levadas a cabo nos últimos dias no Cairo, entre os representantes dos dois movimentos.
O processo de rutura entre Hamas e Fatah deu os seus primeiros passos em 2006, quando os primeiros derrotaram os segundos em eleições parlamentares. Um ano mais tarde, os dois rivais envolveram-se em confrontos pelo controlo da Faixa de Gaza que, 385 mortos mais tarde, culminou na expulsão das tropas do partido do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, daquele território, e no estabelecimento de um governo próprio do Hamas.
As desavenças entre entre Hamas e Fatah, aliadas ao bloqueio terrestre, marítimo e aéreo, imposto por Israel e Egipto, e ao constante estado de guerra vivido no enclave, deixaram os cerca de 2 milhões de habitantes que se acotovelam pelos 365 quilómetros quadrados da Faixa de Gaza, com acesso limitado a água potável, eletricidade, medicamentos e financiamento.
Todas as tentativas de aproximação entre as duas forças políticas palestinianas – particularmente desde 2011 – acabaram por fracassar, e contribuíram para o agravar da crise humanitária para níveis dramáticos, principalmente para os milhares de refugiados que ali se encontram enclausurados.
O histórico pouco feliz do caminho de reconciliação entre Hamas e Fatah – em 2014 já tinha sido também acordada a formação de um governo de unidade e a marcação de eleições – aconselha cautela, mas para Nabil Shaath, conselheiro do presidente Abbas, a postura assumida este domingo pelo Hamas, traz “otimismo” à Fatah. “O governo de unidade vai começar a dirigir Gaza e a Cisjordânia, a desenvolver [os territórios] economicamente e a resolver os problemas dos habitantes de Gaza. Esse primeiro passo trará otimismo verdadeiro e dará condições para o segundo passo: a realização de eleições (…) legislativas e presidenciais”, vaticinou, em declarações à Al-Jazeera.
O jornal britânico “Guardian” refere que, de acordo com as sondagens mais recentes, o Hamas venceria as eleições, tanto na Faixa de Gaza, como nos territórios ocupados da Cisjordânia, muito por culpa da impopularidade crescente que tem vindo a pesar, nos últimos tempos, sobre os ombros de Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Palestiniana – dominada pela Fatah – há 12 anos.