A indústria automóvel mundial, em particular a europeia, promete acelerar o carro elétrico. A resposta à pressão para a redução das emissões de CO2 no âmbito dos Acordos do Clima de Paris e as potenciais proibições dos veículos movidos a motor de combustão interna em várias cidades, para além do escândalo das emissões poluentes, está na mudança para o veículo elétrico. Mas há vários desafios a superar nesta mudança, – desde as baterias à energia necessária para a construção, passando pelas infraestruturas de carregamento – cujo calendário e velocidade é difícil de prever.
Por ocasião do Salão Automóvel de Frankfurt, que decorre por estes dias, as principais construtoras germânicas – Volkswagen, BMW e Daimler (fabricante da Mercedes-Benz) – anunciaram um programa de mudança para o fabrico de carros elétricos.
O grupo VW tem planos para produzir versões elétricas dos 300 modelos automóveis que compõem o portefólio das suas diversas marcas até 2030. O programa implica um investimento de 20 mil milhões de euros para desenvolver novos veículos, atualizar as fábricas, formar o pessoal e desenvolver a infraestrutura de carregamento, a que se juntam outros 50 mil milhões de euros para desenvolver a tecnologia e produzir as baterias Até 2025, a VW tenciona ter 50 modelos totalmente elétricos e 30 híbridos no seu portefólio.
Também a Daimler anunciou que vai passar a disponibilizar versões elétricas de todos os seus modelos. A casa-mãe da Mercedes-Benz quer ainda que a marca Smart seja apenas elétrica e definiu 2022 como o prazo para a mudança. O objetivo é disponibilizar 50 modelos Mercedes-Benz híbridos ou totalmente elétricos e assim poupar 4000 milhões de euros.
Esta decisão da Daimler segue-se à da rival BMW, que conta ter 12 modelos diferentes de carros elétricos a partir de 2020. «Até 2025 ofereceremos 25 automóveis eletrificados – 12 dos quais totalmente elétricos», afirmou o CEO da marca, Harald Krüger.
Antes tinha sido o grupo britânico Jaguar Land Rover (JLR) – que vai lançar o seu primeiro modelo completamente elétrico – o Jaguar I-Pace – em 2018, a anunciar o afastamento dos motores de combustão. Em julho, a Volvo revelara planos para deixar de produzir automóveis com motores de combustível a partir de 2020.
Mudança na energia
Um dos desafios desta mudança é a existência de uma infraestrutura que garanta o carregamento dos carros. Aqui, as diferentes marcas são parceiras. A VW_começou «uma iniciativa conjunta com a Porsche, a Mercedes, a BMW e a Ford para construir uma rede de estações de abastecimento nas autoestradas europeias. A instalação deve estar terminada em 2020, o mais tardar. É a primeira resposta a uma importante e urgente questão», resume o CEO da marca, Matthias Mueller.
Outra questão importante é a eletricidade necessária, primeiro para o fabrico e depois para a locomoção dos veículos elétricos. Esta é em grande parte produzida com recurso a combustíveis fósseis e as energias renováveis são ainda pouco competitivas na produção de eletricidade.
Por exemplo, na Alemanha, mais de metade dessa energia tem origem no carvão e no gás natural. E apesar de a construção de carros elétricos requerer mais energia na sua construção – em parte devido ao fabrico de baterias –, na sua utilização, os atuais modelos elétricos são muito mais limpos e energeticamente eficientes. «E vão ficar cada vez melhor quanto mais fontes renováveis de energia forem utilizadas para a produção de eletricidade», afirma um especialista em mobilidade elétrica, citado pela agência Reuters.
Para que a mudança para a mobilidade elétrica seja o mais eficiente possível, os países precisam de mudar o paradigma energético. Em 2016, as energias renováveis correspondiam a 34% do mix na Alemanha – a meta é chegar a pelo menos 60% em 2035.
Atenção às baterias
A produção das baterias é outros dos desafios, no qual Portugal poderá ter um papel importante (ver texto secundário).
Roberto Vavassori, presidente da Associação Europeia de Fornecedores da Indústria Automóvel (CLEPA), avisa que uma mudança apressada para os carros elétricos vai beneficiar a China, que a par da Coreia do Sul e do Japão dominam a produção de baterias para estes veículos.
O responsável afirma que as construtoras europeias pagam entre 4000 e 7000 euros à China pelas baterias de cada carro elétrico produzido na Europa. O responsável da CLEPA diz que além das baterias, a Europa está também atrasada na produção de sensores e microchips e que depender do fornecimento da China é sempre um risco.
A fasquia está elevada, uma vez que a indústria automóvel como um todo é responsável por 5,7% dos empregos da União Europeia – 12,6 milhões de postos de trabalho. «Precisamos que a Europa produza os veículos do futuro, ou colocaremos a Europa em risco», diz Roberto Vavassori.
Pressão ambiental
Outros dos motivos para o acelerar do carro elétrico na indústria automóvel europeia vem dos governos, que, em especial depois da assinatura dos Acordos de Paris sobre as alterações climatéricas, incentivam ao abandono dos motores de combustão, de forma a cumprir as metas de redução da emissão dos gases com efeitos de estufa e da poluição nas cidades.
O último destes países a enveredar por este caminho foi a China, o segundo maior mercado automóvel, numa decisão de grande impacto na indústria mundial. A também segunda maior economia global, que prometeu limitar as sua emissões de CO2 até 2030 e reduzir a cada vez pior poluição do ar, é a última a juntar-se a países como o Reino Unido e a França, que ambicionam acabar os veículos a gasolina e gasóleo.
Mas esta mudança vai demorar. «A implementação de uma proibição para um mercado tão grande poderá acontecer só depois de 2040», diz um responsável da indústria chinesa à agência Bloomberg «Dará tempo a toda a gente para se preparar».