“As suas prioridades, senhor secretário-geral, são as nossas oportunidades”, disse ontem António Costa no seu primeiro discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas. O primeiro–ministro foi a Nova Iorque defender as reformas na organização que Guterres quer implementar para a tornar mais de acordo com a geopolítica do mundo atual.
Visando tornar as Nações Unidas “mais transparentes, mais eficazes, mais adaptáveis a um mundo em constante mutação”, disse o político socialista: “Saudamos e apoiamos o dinamismo que, desde o início do seu mandato, incutiu à reforma do sistema das Nações Unidas para que este possa cumprir melhor os seus nobres desígnios”, afirmou para Guterres.
Aproveitando o balanço das reformas, Costa aproveitou para defender o alargamento do Conselho de Segurança a Brasil, Índia e África. “O continente africano não pode deixar de ter uma presença permanente, e o Brasil e a Índia são dois exemplos incontornáveis”, referiu o primeiro- -ministro antes de se abalançar numa defesa do português como língua de trabalho das Nações Unidas, jogando com o possível empurrão que ter um secretário-geral de nacionalidade portuguesa pode dar.
“E aproveito para referir a importância da língua portuguesa, que se afirma hoje como um instrumento de comunicação com dimensão global. Em meados deste século, o português deverá contar com quase 400 milhões de falantes, o que tem justificado a sua elevação a língua oficial em diversos organismos internacionais. A adoção do português como língua oficial das Nações Unidas permanece um desígnio comum dos Estados-membros da CPLP”, sublinhou.
Mostrando a sintonia entre velhos camaradas de partido, um ex-primeiro-ministro e outro atual, Costa e Guterres trocaram sorrisos para as fotos oficiais da ONU, antes e durante o encontro que tiveram a sós à margem da Assembleia-Geral. Foi o primeiro encontro da agenda do dia de ontem para Guterres, logo às 8h35 da manhã (13h35 em Lisboa), após a assinatura do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares.
Costa haveria de falar indiretamente disso, ao manifestar o seu apoio à “bandeira da diplomacia para a paz” promovida pelo secretário-geral. Porque, para o chefe do governo, os conflitos resolvem-se através da política e da diplomacia ou não se resolvem. E, aí, a ONU joga papel fundamental.
“É que só as Nações Unidas dispõem da vocação universal e dos atributos essenciais para, com os Estados-membros, responderem aos desafios, cada vez mais complexos, do nosso tempo”, referiu António Costa. Porque perante a “ameaça global” do terrorismo é preciso que se intensifique o trabalho em conjunto, numa união capaz de fazer a força para lidar com esse perigo que todos afeta.
“A complexidade dos problemas globais que hoje enfrentamos impõe a necessidade de cultivar as parcerias, envolvendo não apenas os Estados, mas também as sociedades civis, as instituições financeiras internacionais, as entidades públicas e privadas”, disse Costa.