Os alertas sobre os pesticidas nos alimentos têm vindo a ganhar força, assim como os do uso de alimentos transgénicos no setor alimentar. O documentário “GMO OMG” (2013) gerou discussão nos Estados Unidos, alertando para a falta de estudos que comrovem os efeitos a longo prazo da ingestão de organismos geneticamente modificados. Um dos argumentos é que os transgénicos são introduzidos no cultivo por serem, teoricamente, mais resistentes a pragas e insetos, e assim contribuírem para uma maior produtividade, necessária para alimentar o mundo. Mas o filme alerta para que, ainda assim, esta opção tem levado a um maior uso de herbicidas, como o glifosato. Assim, qual é o sentido de produzir alimentos transgénicos se os herbicidas continuam a ser aplicados, questiona o documentário, alegando ainda que 80% da comida processada contém organismos geneticamente modificados e, de acordo com um estudo feito a animais e mencionado no filme, os alimentos que são pulverizados com glifosato podem ter efeitos severos – os resultados demonstraram tumores e problemas nos rins e fígado. Na Europa é obrigatório os rótulos referirem a existência de transgénicos. A Plataforma Transgénicos Fora – Por uma Agricultura Sustentável publica no seu site uma lista de produtos disponíveis em Portugal com ingredientes geneticamente modificados, é o caso de algumas bolachas, farinhas de milho ou óleos alimentares. O que diz a Organização Mundial da Saúde: os alimentos com organismos geneticamente modificados que chegam ao mercado passaram nas avaliações de segurança.
Quanto aos pesticidas, os últimos dados não são tranquilizadores, até porque muitas substâncias são potencialmente cancerígenas. De acordo com um estudo divulgado este verão pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar, com base na análise de 84 mil amostras de alimentos em 2015, 97,2% continham vestígios de pesticidas, dentro do limite legal, o que levou a EFSA a considerar existir um risco baixo para os consumidores. Apenas 5,6% das amostras excediam os limites legais. Brócolos e uvas de mesa foram os alimentos em que se encontraram mais valores acima do normal. O mesmo relatório já reconhecia que, apesar de serem uma minoria (0,7%), chegam a ser detetados vestígios de pesticidas em alimentos biológicos. Este ano, uma investigação da “Visão” confirmou que também em Portugal é possível encontrar vegetais ditos biológicos com presença de herbicidas, inseticidas e fungicidas, alguns acima dos níveis regulamentados. Duas couves, por exemplo, apresentavam 1,2 mg de glifosato, 12 vezes mais do que o máximo permitido por lei.
O que diz a ciência
Pesticidas e a infertilidade
Um estudo publicado na revista “Human Reproduction Update” concluiu que a exposição e o consumo de frutas e vegetais com elevados níveis de pesticidas podem provocar uma baixa quantidade de espermatozoides e uma menor qualidade do esperma. O estudo foi feito entre 2007 e 2012 em Boston com 155 homens que tinham uma dieta baseada em legumes e vegetais. Ainda outro estudo, feito entre 1973 e 2011, revelou que o número de espermatozoides caiu cerca de 50% nos países ocidentais. Os investigadores analisaram 244 contagens de espermatozoides, que tinham sido feitas a 43 mil homens, e apontaram a exposição a pesticidas através da alimentação como uma das potenciais causas.