É mais do que sabido que a gordura e o açúcar em excesso fazem mal à saúde mas, entre os dois, qual é o pior? O documentário “That Sugar Film” (2014) debruça-se sobre este tema e relembra o início da discussão em 1955, quando o presidente dos Estados Unidos da América, Dwight D. Eisenhower, morre de um ataque cardíaco. O documentário destaca as teorias que surgiram para a doença, com destaque para duas figuras: um cientista americano, Ancel Keys, que dizia que a morte tinha sido causada por uma dieta excessiva em gorduras; e um médico britânico, John Yudkin, que afirmava que os ataques cardíacos resultavam do consumo elevado de açúcar.
Por volta dos anos 70, conta o documentário, as gorduras ganharam a batalha e exoneraram o açúcar, momento em que começaram a ser promovidas dietas baseadas em poucas gorduras (mas cheias de açúcares). O documentário demonstra a evolução de um britânico que, ao longo de dois meses, tenta consumir cerca de 40 colheres de chá de açúcar por dia, mas sem recorrer a gelados ou chocolate. Os resultados são rápidos e notórios: em apenas duas semanas ganha cerca de três quilos, tem alterações de humor e o seu corpo tornou-se totalmente dependente do açúcar para funcionar, como se fosse uma espécie de droga. Já em “Fed Up” (2014) é afirmado que o açúcar é oito vezes mais viciante que a cocaína. Um documentário que se estreou este ano, “What the Health”, torna a apontar baterias às gorduras e alega mesmo que a diabetes – doença tradicionalmente associada ao açúcar – tem origem, em primeiro lugar, no excesso de matéria adiposa. Porquê? A diabetes resulta de uma incapacidade de manter os níveis de glucose (açúcar) no sangue e surge ou quando o pâncreas não produz insulina suficiente para gerir este processo devido a uma condição imunitária (tipo 1) ou quando o sistema deixa de funcionar normalmente por outros motivos (tipo 2). É a insulina que promove o processo de passagem da glucose do sangue para as células musculares, onde é transformada em energia. De acordo com os médicos ouvidos em “What the Health”, mais do que o açúcar em si, no caso da diabetes tipo 2 é a gordura acumulada que trava esse processo. É mais um mito? Neste caso, apesar de o documentário ter motivado reações de surpresa, não parece. No site Diabetes UK, de sensibilização e promoção de saúde, também é afirmado que o açúcar não causa diretamente a diabetes tipo 2, que é mais provável se a pessoa for obesa. A questão é que isto não significa carta-branca para consumir açúcar: o risco de excesso de peso surge quando se consomem mais calorias do que aquelas que se gastam, e alimentos e bebidas açucaradas são grandes fontes calóricas.
Os estudos
Continuam a suceder-se estudos, apesar de os especialistas ressalvarem que uma dieta equilibrada será sempre a melhor opção, sendo de evitar produtos processados – sejam açúcares ou gorduras. Este verão, um trabalho da McMaster University, em Ontário, alertou para os riscos associados ao excesso de hidratos de carbono refinados, como o açúcar, enquanto uma dieta com alguma gordura (até 35% da ingestão diária) parecia ter um efeito protetor da mortalidade prematura. Atualmente, a roda alimentar recomenda diariamente 1 a 3 porções de gorduras e óleos e 4 a 11 porções de cereais e derivados e tubérculos.
O que dizem os peritos
“À semelhança da ingestão excessiva de açúcar, o excesso de consumo de gordura saturada pode aumentar o risco de resistência à insulina e diabetes tipo 2”, diz Alexandra Bento. Já Isabel do Carmo assinala que a doença não é causada diretamente nem pelas gorduras nem pelo açúcar, mas sim por vários fatores, relembrando ainda assim que “os excessos de açúcares são um dos fatores importantes para desencadear”. Na batalha travada entre gorduras e açúcares, a especialista afirma que existem vários documentos a favor de um e de outro. Um dos problemas para as melhores escolhas alimentares é o facto de o açúcar, que pode ser bastante prejudicial para a saúde, poder passar despercebido: existe mesmo nos alimentos que “não são doces”.