O Partido Socialista está em dose dupla nas eleições à Câmara Municipal de Barcelos. De um lado o candidato oficial do partido, o atual autarca Miguel Costa Gomes, do outro Domingos Pereira, que se apresenta como candidato independente, mas também reivindica a herança socialista. Ou seja, dois candidatos da mesma cor política e disputar o mesmo eleitorado.
Domingos Pereira bateu com a porta depois de sair do executivo municipal em rutura com o atual presidente da autarquia. Em fevereiro deste ano deixou de ser militante do PS e optou por avançar sozinho. O agora candidato à Câmara tinha sido o escolhido pela concelhia e pela distrital socialista para encabeçar a lista do PS em Barcelos. Esta escolha contrariou aquela que tinha sido uma decisão da comissão nacional (recandidatar todos os presidentes de Câmara eleitos pelo PS nas próximas autárquicas) e levou à avocação do processo. Miguel Costa Gomes, atual autarca, segue, assim, como candidato socialista e tem agora o primeiro rival assumido. O mal-estar tornou-se claro quando, em maio, Costa Gomes retirou os pelouros a Domingos Pereira que, antes de assumir o cargo de deputado em Lisboa, era vice-presidente da Câmara.
Ainda assim, Domingos Pereira tem afirmado que a sua candidatura não é “revanchista nem contra ninguém”.
Este duelo já levou o candidato do PCP, Mário Figueiredo, a dizer que esta é uma oportunidade para o seu PCP conquistar o seu primeiro lugar na vereação da autarquia. No entanto, critica o episódio da divisão no PS em Barcelos que pode levar a mais uma razão para o “descontentamento dos eleitores” e para o “descrédito da política e dos partidos”. “É uma novela”, comentou.
Também a escolha do candidato do PSD foi longe de ser tranquila. O PSD Barcelos chegou a anunciar que o seu candidato nas próximas autárquicas seria Sérgio Azevedo, mas esta candidatura acabaria por cair face à contestação interna. No seu lugar e com o apoio do CDS acabou por aparecer o nome de Mário Constantino Lopes. Também este está esperançado em ganhar votos com esta disputa socialista
Águas agitam campanha
A concessão da água e do saneamento de Barcelos em 2005 e por 30 anos, à AdB, constituída pela Somague Ambiente (75% do capital) e pela construtora ABB (25%) tem sofrido fortes criticas por parte de todos os candidatos à autarquia. Isto porque em 2010 e uma vez que, os consumos previstos no contrato de concessão nunca foram alcançados, a AdB requereu a constituição do tribunal arbitral, com vista à reposição de equilíbrio económico-financeiro da concessão, resultando daí a condenação do município no pagamento de 172 milhões de euros, até 2035.
Esta condenação, que já foi ratificada por todas as instâncias judiciais possíveis, ainda não foi aplicada, por acordo entre município e as duas empresas que constituem a AdB, que entretanto têm vindo a negociar uma outra solução para o problema.
O atual presidente ainda levou à reunião do executivo uma proposta para que fosse autorizado votar em Assembleia Municipal a compra de 49% do capital social da AdB, ficando a Somague Ambiente com 51%. O negócio implicaria o pagamento, pelo município, de 44,5 milhões de euros à concessionária, relativos à compensação financeira. Mas a proposta foi chumbado.
Para Miguel Costa Gomes, esta era a solução mais vantajosa para o município, desde logo porque “elimina a sombra” da decisão do tribunal arbitral. Um argumento que não convenceu Domingos Pereira que exigiu que esta questão fosse resolvida pelo executivo que sair dessas eleições. “Ficamos estupefactos com um memorando que o presidente da câmara apresentou em que defende que a aquisição de 49% das Águas de Barcelos por 59 milhões de euros é o melhor acordo de todos, enquanto o que estava em cima da mesa eram outros dois acordos com os privados”, revelou.
Concorrem às eleições em Barcelos Miguel Costa Gomes, pelo PS, Mário Constantino Lopes, pelo PSD/CDS-PP, Domingos Pereira, do Movimento Independente Barcelos Terra de Futuro, Ilídio Tores, do BE, e Mário Figueiredo do PCP/PEV.