Curdistão. Noventa e dois por cento querem independência do Iraque

Referendo dá carta forte aos responsáveis curdos para iniciarem as negociações com o governo iraquiano.

Na face de ameaças nacionais e internacionais, o governo do Curdistão iraquiano anunciou esta quarta-feira que 92% da população deseja a independência do resto do país.

O resultado do referendo desta semana foi anunciado horas depois de os deputados iraquianos autorizarem o governo a enviar tropas para as cidades sobre as quais há mais desentendimentos, como, por exemplo, a multicultural cidade petrolífera de Kirkuk, que está fora da região autónoma mas votou na mesma.

Bagdade promete também encerrar o espaço aéreo sobre o Curdistão iraquiano na sexta-feira.

Este é o primeiro referendo à independência de uma área de maioria curda no Médio Oriente.

O governo regional do Curdistão, que tem alguma autonomia desde a invasão norte-americana de 2003, realizou a consulta contra ordens dos tribunais iraquianos, do seu primeiro-ministro, e ameaças turcas e iranianas.

Segundo os dados desta quarta avançados pela comissão eleitoral, contaram-se 2,86 milhões de votos pelo “sim” e 224 mil boletins pelo “não”. 

Ameaças

Não é certo o que acontecerá nas próximas semanas. Tanques turcos e iraquianos têm realizado exercícios conjuntos nos últimos dias, sugerindo que os curdos podem sofrer represálias militares.

Se Bagdade quer preservar o território intacto e as reservas de petróleo no norte, a Turquia, sobretudo, preocupa-se com as aspirações dos seus próprios separatistas e com os grupos armados da Síria que tentam criar um Estado curdo no norte do país. 

“Imporemos a lei do Iraque em todos os distritos da região com a força da Constituição”, prometeu esta quarta-feira o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi.

Em todo o caso, muitos observadores defendem que o confronto armado por enquanto não parece ser um risco de maior, principalmente porque ainda há bolsas do Estado Islâmico em territórios rurais do noroeste do Iraque e os exércitos de Bagdade estão sem recursos e homens para abrir uma nova frente – o mesmo não se pode dizer da Turquia, que, ainda assim, deve avançar primeiro com punições económicas.