No rescaldo das eleições de 23 de agosto e apesar da UNITA ter registado um aumento de votos e deputados na Assembleia Nacional de Angola, Isaías Samakuva decidiu mesmo abandonar a liderança do partido, que assumiu depois da morte de Jonas Savimbi. Ontem, o comité permanente da comissão política anunciou em comunicado a convocatória de um congresso extraordinário para eleger um novo presidente do partido.
Samakuva já tinha adiantado, em 2016, que iria deixar a liderança do partido logo após as eleições presidenciais angolanas. "Perca ou ganhe, este é o meu último mandato. Aliás, não vou completar o mandato, o mandato no nosso partido é de quatro anos e eu já disse logo depois do nosso congresso que eu vou até 2017, até às eleições", confessou numa entrevista ao jornal online Rede Angola.
O líder justificava a sua decisão pessoal: "Depois de tantos anos que estive na UNITA terei cumprido com a minha missão e também será a oportunidade de deixar outros colegas a dirigirem a UNITA", declarou numa entrevista, em 2017, à "Radio France International". A partir de agora Samakuva passará a ser um simples "militante", apesar de "continuar a trabalhar para o bem do seu país", afirmou na mesma entrevista.
No comunicado, a UNITA voltou a criticar a promiscuidade entre o Estado e o partido, que ficou demonstrada nas últimas eleições, reafirmando a "necessidade da total despartidarização das instituições do Estado, nomeadamente as executoras do registo eleitoral (MAT), a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e o Tribunal Constitucional". O partido condenou também a "existência de uma comunicação social pública ao serviço do partido-Estado".
A UNITA contestou o processo e os resultados das eleições presidenciais angolanas por inúmeras irregularidades. Uma delas foi precisamente "o aliciamento abusivo das autoridades tradicionais na obstrução da vontade livre do eleitor pelo partido-Estado", mas também os atos de violência pós-eleitoral contra "membros da UNITA", principalmente a "execução sumária do filho do deputado eleito da UNITA Joaquim Nafóia (ocorrida em Luanda)".
O órgão partidário não se debruçou apenas sobre o passado recente, mas também sobre o futuro. A UNITA tomou nota "do discurso do presidente João Lourenço" e espera "que cumpra com as suas promessas eleitorais reafirmadas no ato da sua investidura", nomeadamente o reforço do "funcionamento do estado de direito" para que o "império da Lei e da Justiça vinguem no país".
A data e local do congresso extraordinário ainda estão por anunciar.