Desta vez será de vez? Rui Rio parece estar disposto a concorrer a líder do PSD depois de uma estrondosa nega em 1999, quando Marcelo Rebelo de Sousa se afastou da presidência do partido depois de Paulo Portas, em direto e em primeira mão na SIC, ter acabado com a Aliança Democrática. Os barões do partido, em vésperas de eleições legislativas, que Guterres ganhou sem maioria absoluta (ficou a um deputado de a conseguir), tentaram convencer Rui Rio a avançar contra a esperada candidatura de Durão Barroso. O economista nascido no Porto a 6 de agosto de 1957 – tem agora 60 anos – começou por dizer que sim numa reunião em Lisboa em casa de Manuela Ferreira Leite mas quando chegou ao Porto mudou de ideias e deixou assim o caminho livre ao ex-presidente da Comissão Europeia.
Sempre laranja
Rui Rio entrou no PSD pelas portas da Juventude Social-Democrata. Foi vice–presidente da comissão política nacional da JSD entre 1982 e 1984 e por três vezes foi eleito deputado pelo círculo do Porto. A primeira em 1991, quando Cavaco obteve a sua segunda maioria absoluta, a segunda com Fernando Nogueira na liderança e a terceira com Durão Barroso ao leme do partido.
Rui Rio não é muito esquisito em matéria de líderes. Foi vice–presidente do partido com Durão Barroso e Santana Lopes entre 2002 e 2005 e mais tarde ocupou o mesmo lugar entre 2008 e 2010 com Manuela Ferreira Leite na liderança.
A batalha das quotas
Mas a sua grande batalha no interior do PSD aconteceu quando Marcelo Rebelo de Sousa o convidou em 1996 para o cargo de secretário-geral do PSD. Rui Rio aceitou e foi para a São Caetano disposto a dar uma volta à organização do partido e principalmente acabar com a pouca vergonha dos sindicatos de votos e as pequenas ou grandes máfias locais que pagavam quotas de militantes por alturas de eleições para concelhias e distritais e mesmo para os congressos nacionais.
Rui Rio, que é conhecido por ser um homem sério e de muito rigor em matéria de dinheiros, acabou com os pagamentos em numerário e fez uma autêntica revolução no sistema de quotização. O aparelho, obviamente, reagiu mal à mudança, pressionou Marcelo para o afastar do cargo e o atual Presidente da República fez-lhes a vontade um ano depois, em 1997.
Os ataques a Menezes
Mas Rui Rio, que em 2001 foi eleito presidente da Câmara do Porto contra todas as expectativas e a forte oposição de Pinto da Costa, presidente do FC Porto, não esqueceu as quotas e reagiu violentamente quando Luís Filipe Menezes, líder do PSD de 2007 a 2008, decidiu reintroduzir os pagamentos em dinheiro no início de 2008: “São graves e perigosas as alterações aos regulamentos do partido por abrirem uma porta à lavagem de dinheiro ao nível do financiamento partidário”, afirmou logo Rui Rio, acrescentando que “a decisão só pode ser ilegal em face da lei vigente e representa um regresso ao passado”.
As posições de Rui Rio foram apoiadas pelos antigos secretários-gerais do PSD Amândio de Azevedo, António Capucho, Manuel Dias Loureiro, Falcão e Cunha, Rui Rio, Azevedo Soares, Carlos Horta e Costa, José Luís Arnaut, Miguel Relvas e Miguel Macedo e também Pacheco Pereira, Pedro Passos Coelho e José Pedro Aguiar-Branco.
Mas além da guerra das quotas, que Rio ganhou, o aparelho partidário queixava-se amargamente da frieza do secretário-geral, da sua teimosia e da sua firmeza na tomada de posições. No fundo, era um alemão num partido que se orgulha de ser o mais português de Portugal. Para o bem e para o mal.
“O pagamento das quotas em notas e sem controlo centralizado abre uma primeira porta à lavagem de dinheiro ao nível do financiamento partidário”