Longe vão os tempos em que Pedro Santana Lopes tinha a fama de ser um político instável por estar pouco tempo nos cargos que ocupava. A verdade é que, desde há dias, é o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que, desde o 25 de Abril, há mais tempo está no cargo. Se cumprir o mandato até ao fim, ficará até 2019 e ultrapassará por largos anos Rui Cunha e Alfredo Bruto da Costa, que estiveram à frente da instituição durante seis anos.
«Não me pesaria a consciência se saísse em breve», disse Santana Lopes, numa entrevista ao Expresso, no final de 2016, em que se orgulhava de deixar obra feita. Nessa altura não era a liderança do partido que lhe ocupava as reflexões: o PSD andava a pressioná-lo para ser candidato à Câmara de Lisboa.
Fez questão de alimentar o tabu durante alguns meses. Até dar o não definitivo a Passos Coelho, o ex-líder do partido foi avisando que a sua prioridade era «continuar na Santa Casa». Foi também numa entrevista que anunciou que não estava disponível para ser candidato à Câmara de Lisboa. A razão era a necessidade de continuar o trabalho que estava a desenvolver à frente da Santa Casa e os projetos que tinha para os próximos anos. «Foi a ligação ao trabalho que está a ser desenvolvido na Misericórdia que mais pesou na conclusão a que cheguei», escreveu na sua habitual crónica no jornal Correio da Manhã.
Foi também por causa do cargo que ocupa na Santa Casa que recusou ser candidato à Presidência da República. «Não serei candidato à Presidência da República nas próximas eleições. Tomei esta decisão, considerando os meus deveres enquanto provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e, também, as minhas responsabilidades profissionais», escreveu, há dois anos, num comunicado enviado à agência Lusa, quando anunciou que não entraria na corrida presidencial.
Santana já foi quase tudo na vida política, desde presidente de câmara a primeiro-ministro, mas está afastado da política ativa há quase 10 anos. A última vez que disputou um cargo político foi em 2009, quando se candidatou a Lisboa e perdeu com António Costa.
Passos Coelho escolheu-o para provedor da Santa Casa e desde aí que tem feito tudo para cultivar uma imagem de estabilidade. Há menos de um ano, em entrevista ao Diário de Notícias, garantiu que a sua «intenção é cumprir o mandato» e «levar por diante» os projetos que assumiu. Cumprir o mandato implicaria, porém, ficar à frente da instituição até Março de 2019 e recusar, mais uma vez, regressar à política ativa.