O governo enfrentou a semana mais dura desde que, há quase dois anos, entrou em funções. Pela primeira vez é confrontado com uma moção de censura. Pela primeira vez, António Costa ouviu de Marcelo um discurso duríssimo para com o governo. “Há aqui uma situação nova”, admite, em declarações ao i, o socialista José Junqueiro.
O ex-deputado do PS considera que “a intervenção do Presidente da República foi além do que era exigido, porque o governo, nesta matéria, ficou aquém do que lhe era exigido. Foi uma espécie de murro na mesa para que se percebesse que o que aconteceu foi de uma enorme gravidade”.
O governo enfrentou a semana mais dura desde que, há quase dois anos, entrou em funções. Pela primeira vez é confrontado com uma moção de censura. Pela primeira vez, António Costa ouviu de Marcelo um discurso duríssimo para com o governo. “Há aqui uma situação nova”, admite, em declarações ao i, o socialista José Junqueiro.
O ex-deputado do PS considera que “a intervenção do Presidente da República foi além do que era exigido, porque o governo, nesta matéria, ficou aquém do que lhe era exigido. Foi uma espécie de murro na mesa para que se percebesse que o que aconteceu foi de uma enorme gravidade”.
António Costa não escapa às críticas de alguns socialistas pela forma como geriu todo este processo. A deputada do PS Helena Roseta escreveu, num artigo no jornal “Público”, que “o governo não foi capaz de perceber a dimensão da tragédia”. Roseta falou mesmo de “incompetência” no combate aos incêndios e alertou o primeiro-ministro para que “é preciso merecer o poder que se tem”.
Muitos socialistas não gostaram de ouvir as declarações de António Costa no início da semana sobre os incêndios que estavam a acontecer e muito menos o secretário de Estado Jorge Gomes a aconselhar “as comunidades a ser proativas”.
Mesmo os mais próximos do primeiro-ministro, como João Galamba, admitem que as coisas não correram bem. No programa “Sem Moderação”, na TSF, o deputado socialista admitiu que António Costa “fez uma leitura errada do que estava a acontecer” e “ficou aquém do que devia ter sido”.
A estratégia do governo é dar ouvidos à “reprimenda” – como lhe chamou o porta-voz do PS – do Presidente da República e cumprir as exigências de Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro sinal foi a substituição da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa. Coube ao líder parlamentar do PS, Carlos César, justificar a escolha de Eduardo Cabrita, um homem da confiança de Costa, para o lugar. “É muito relevante que a escolha tenha recaído numa personalidade profundamente conhecedora da administração pública e do país, e com um currículo que lhe permitirá desempenhar essas funções com a eficiência necessária.”
O primeiro-ministro optou por não mexer em mais ministérios. O novo ministro-adjunto é Pedro Siza Vieira, outro nome muito próximo de António Costa. O novo ministro, que só irá tomar posse no sábado, já falou publicamente e admitiu ao jornal digital “ECO” que o governo está fragilizado. “Claro que estou motivado. Temos um país devastado, o Estado falhou e temos um governo fragilizado.”
Bloco esperava mais
As alterações no governo não mereceram grandes comentários dos partidos que apoiam o governo. Mariana Mortágua admitiu, no entanto, na quarta-feira à noite, num comentário na SIC, que “esperava mais desta remodelação”. Mortágua considerou que era “inevitável” a substituição de Constança Urbano de Sousa. “A fragilização da ministra era evidente. Foi perdendo condições para assumir o seu cargo.” João Teixeira Lopes, ex-deputado do Bloco de Esquerda e candidato à Câmara do Porto nas últimas eleições autárquicas, foi mais longe e defendeu que “todo o processo foi mal gerido”. Teixeira Lopes criticou a “teimosia” do primeiro-ministro por não demitir a ministra mais cedo e considerou que foi um erro “clamoroso” não o fazer. “Há aqui, da parte de António Costa, um estilo que tem alguma coisa de arrogante que me parece que ele deve inverter”, disse, na RTP, o ex-deputado do Bloco de Esquerda.
Marcelo no terreno
O Presidente da República visitou ontem as zonas mais afetadas pelos incêndios. Marcelo Rebelo de Sousa voltou a garantir que será exigente em relação ao governo nas reformas que é preciso fazer para evitar tragédias como as que aconteceram este ano. Quando avaliar o seu mandato presidencial, “uma das questões essenciais é saber se foi possível ou não mudar de vida nesta questão das florestas e dos fogos”. Marcelo disse que o “grande objetivo é não deixar esquecer” estas tragédias “na voragem das notícias do dia-a-dia”.