Mais uma tragédia, mais uma lição a aprender…

Marcelo Rebelo de Sousa pensou no que ia dizer, onde ia dizer, como ia dizer e como queria que fosse entendido. E é este exercício que as marcas devem fazer diariamente.

Já muito se escreveu e disse sobre os incêndios em Portugal.

É estranho até que um assunto que nos deixa sem palavras, consiga ser esmiuçado em intermináveis análises.

Não vou aqui debater causas, culpas ou fazer análises políticas sobre o tema, pois essa não é de todo a minha praia. Não vou também recontar ainda mais esta tragédia e todo o seu impacto.

Aqui falamos de comunicação e, ao longo destes meses, muito temos falado da importância de humanizar e dar um tom mais emocional às marcas e à sua estratégia.

E nada como analisar as declarações do nosso primeiro-ministro vs o nosso presidente da república sobre o domingo fatídico de 15 de outubro para entender esta tendência e o seu efeito no grande público.

Enquanto António Costa foi acusado de ser frio, distante a até arrogante, Marcelo Rebelo de Sousa foi próximo, empático, sensível, reparador. Enquanto o primeiro gerou revolta, inquietação e descontentamento; o segundo conseguiu consolar, reconfortar, desculpar-se.

Fizeram diferença as palavras obviamente, mas também a postura, o ambiente tudo contou. Marcelo estava no local da tragédia quando falou, abraçou as vítimas, ouviu as suas histórias e disse presente bem alto, contrastando com a declaração formal e institucional que ouvíramos antes.

É certo que Marcelo é assim – os seus seguidores adoram, os seus críticos dirão que é tudo pensado e calculado. Eu acredito na genuinidade com que Marcelo agiu , mas ainda que não acreditasse, do ponto de vista da estratégia de comunicação, ele fez tudo bem.

Pensou no que ia dizer, onde ia dizer, como ia dizer e como queria que fosse entendido. E é este exercício que as marcas devem fazer diariamente para que consigam de facto falar com os seus consumidores, para que sejam relevantes, para que não caiam na indiferença da amálgama de marcas.

Adotar o tom certo e adequar a mensagem ao meio e ao objetivo parece super simples, no entanto nem sempre é bem feito.

Estas duas declarações foram rapidamente comparadas, escrutinadas e debatidas nos dias a seguir e as reações genericamente comprovam que de facto sem humanizar, sem emocionar, a nossa mensagem é só mais uma. Por muito força que assuma o racional, que assume e bem muitas vezes, só com emoção nos conseguiremos destacar e chegar mais além.

Dizem os entendidos que António Costa levou uma lição.

Não sei se sim se não, mas no que toca ao poder e eficácia da comunicação todos temos muito a aprender aqui com o Professor.

 

*Diretora Criativa Havas Sports & Entertainment