A violência étnica e o caos que habitualmente se segue às eleições presidenciais quenianas deu-se esta quinta-feira mais cedo, no dia da própria ida às urnas. Ao fim da tarde, as autoridades no Quénia registavam três mortos, um encontrado na capital, Nairobi, e dois outros achados na região natal do veterano candidato a presidente e principal opositor ao poder, Raila Odinga – cujo nome, esta quinta-feira e pela primeira vez em dez anos, não foi para os boletins.
Os feridos contam-se às dezenas e a polícia parecia estar a disparar balas reais contra manifestantes e motins, como relatava o correspondente da BBC no Quénia, que atribui às autoridades um dos mortos em Kisumu, na zona ocidental do país e o bastião de Odinga.
Os tumultos anteciparam-se desta vez aos resultados porque, sem Odinga, o desfecho parece decidido à partida. O líder da oposição boicotou as eleições e mobilizou os seus apoiantes de forma a realizarem protestos que as interrompessem.
Segundo diz, a comissão eleitoral não fez as reformas necessárias para corrigir os erros que levaram a que as eleições de agosto – que inicialmente deram a vitória ao presidente e rival étnico Uhuru Kenyatta – se repetissem devido a irregularidades na “transmissão dos resultados”.
“Venceremos a batalha por uma eleição livre e justa”, disse Odinga num comunicado publicado no começo do mês. Esta quinta-feira. insistiu em dizer que não descansará até ir a eleições credíveis. E para muitas pessoas, com efeito, este nem foi dia de eleições.
Distritos inteiros ficaram sem votar, em parte graças a ataques contra locais de voto, motins, boicote de eleitores e até dos próprios responsáveis das mesas, sobretudo em Kisumu. De acordo com Emmanuel Igunza, o jornalista da BBC no terreno, apareceram apenas três dos 399 funcionários das mesas de voto apontados para a região berço de Odinga e centro político da oposição.
Noutras zonas do país, o voto também esteve congelado. Hilda Nyaga, responsável pelo voto em Kibera, uma zona de Nairobi, dizia esta quinta-feira ao “Guardian” que desde as seis da manhã ao fim da tarde viu apenas 50 eleitores. “Na última vez estava tão agitado que havia longas filas. Agora está muito calmo.”
A comissão eleitoral vai prolongar o voto em algumas zonas afetadas pela violência. O órgão – o IECB – contesta os argumentos de Odinga e argumenta que fez várias alterações desde as eleições anuladas de agosto.
Já o Supremo Tribunal, a quem Odinga pediu que adiasse as eleições, não conseguiu deliberar esta semana porque apenas dois dos sete magistrados compareceram na audiência de quarta-feira – uma delas, Philomena Mwilu, ficou em casa depois de um seu guarda-costas ter sido alvejado.