José Eduardo Martins: “Iguais são os porcos”

O verniz estalou na distrital de Lisboa do PSD. À espera de liderar a bancada na Assembleia Municipal, Martins viu o presidente de junta Luís Newton furar o consenso. E bateu com a porta. 

Acabou a saga de José Eduardo Martins no PSD de Lisboa? O homem que há cerca de um ano aceitou coordenar o programa do seu partido para disputar a Câmara de Lisboa suspende agora o mandato na Assembleia Municipal [AM] em confronto direto com a distrital.

Os sociais-democratas não só perderam nas urnas a tentativa de conquistar a presidência da Câmara e da Assembleia Municipal da capital, como agora também perdem um dos rostos que estava nos cartazes: José Eduardo Martins. O social-democrata, que partilhou o boletim de voto do PSD em Lisboa com Teresa Leal Coelho, suspendeu o seu mandato em colisão com a distrital do partido, liderada por Pedro Pinto.

Em causa está a nomeação para a liderança de bancada na Assembleia Municipal, a que José Eduardo foi candidato como cabeça-de-lista. Martins tinha a indicação relativamente garantida entre os deputados municipais eleitos pelo PSD (são 8), mas uma insurgência levada a cabo por presidentes de junta de freguesia que o partido reelegeu este ano, e que têm inerência na AM, roubou a unanimidade a Martins.

O presidente da junta da Estrela, Luís Newton, mostrou vontade de apresentar uma lista encabeçada por si para a liderança de bancada e – com o apoio da distrital de Pedro Pinto, mas contra a vontade inicial de Passos Coelho, que preferia ver quem deu a cara na campanha – fê-lo saber numa reunião que aqueceu. Newton, deputado municipal por ter sido eleito presidente de junta, argumentou que havia igualdade entre os eleitos para se apresentarem a presidentes de bancada. «Aqui somos todos iguais», terá argumentado o autarca a Martins, segundo fonte próxima de ambos. «Iguais são os porcos», respondeu de volta Martins, rejeitando qualquer semelhança entre si e Newton. Fernando Ribeiro Rosa, presidente da junta de freguesia de Belém, Álvaro Carneiro, Ana Mateus, Francisco Domingues (estes dois últimos da distrital de Pinto) e Mafalda Cambeta (próxima de Newton) foram os deputados municipais que apoiaram uma alternativa a José Eduardo Martins, que assim sai de cena.

Os outros dois presidentes de junta eleitos pelo PSD, que também estão inerentes na Assembleia Municipal, não votaram na decisão para a liderança de bancada. Outros deputados municipais eleitos, como Carlos Barbosa e Virgínia Estorninho, não foram informados por Pedro Pinto da reviravolta. José Eduardo Martins, perante a relatada insurgência, acabou por nem apresentar lista e abandonar a sala. Newton foi eleito com os votos também já enumerados, que defendem uma articulação estreita entre a direção de bancada e a distrital de Pedro Pinto, coisa que já sofrera turbulência durante a elaboração das listas, antes da ida às urnas.

Alguns nomes que Martins pretendia levar consigo para a equipa da Assembleia Municipal, como Mauro Xavier ou Carlos Reis, foram vetados ou despromovidos na ordem pela distrital devido às suas posições mais distantes a Pedro Passos Coelho, então presidente de partido. Mas a relação de José Eduardo Martins com algum do aparelho lisboeta nunca foi a melhor. Quando Mauro Xavier o convidou para coordenar o programa local, não hesitou em atirar algumas críticas à (falta de) oposição feita nos quatro anos anteriores de mandato autárquico do PSD.

Apesar disso, Martins viu João Pedro Costa, que já fora seu adjunto, ir a número 2 na lista à Câmara com Leal Coelho e depois eleito vereador. Contactado pelo SOL, Costa garante que fica apesar da ‘traição’ interna ao amigo. «Não foi um dia bom, mas fico. Claro que fico. O meu compromisso é com os lisboetas e com criar uma alternativa a Fernando Medina para 2021», atira o académico. Teresa Leal Coelho, que também não esperava o imprevisto, deve ficar como vereadora com ele.

Regressando à Assembleia Municipal, Helena Roseta, a presidente-eleita, convidou Virgínia Estorninho, veterana social-democrata, para secretária da mesa da AM. Embora o CDS tenha conseguido um resultado mais elevado que o PSD em número de deputados municipais, as já referidas inerências dos presidentes de junta conferem mais lugares ao PSD na Assembleia Municipal.