Na semana em que Pedro Santana Lopes apresentou a sua candidatura, conquistou grande parte do grupo parlamentar, nas gerações mais velhas e mais novas, mas o trabalho de casa que Rui Rio vinha fazendo há mais de um ano tem dado frutos na estrada. Concelhias e distritais algo improváveis para o nortenho têm dado sinais de apoio com que a candidatura não contava, ao que o SOL apurou.
As distritais de Guarda, Bragança e Aveiro já estavam asseguradas e estiveram presentes no lançamento da candidatura, mas entretanto Viana do Castelo e Vila Real juntaram-se, sendo esta última um apoio de peso para Rio. De norte a sul, concelhias também têm proporcionado surpresas agradáveis como a do Fundão (em Castelo Branco) e a de Loulé (no Algarve). A Madeira deu liberdade de voto aos militantes (ver página ao lado) e deve partir e a distrital de Braga, uma das mais poderosas, não irá apoiar ninguém. O seu presidente, o eurodeputado José Manuel Fernandes, conhece muito bem Rio e já apoiou Santana num congresso mais antigo, mas irá, sabe o SOL, assumir neutralidade, o que quer dizer que também esse distrito deverá quebrar no que diz respeito ao apoio a cada nome: em Vila Verde torce-se mais por Rio; em Famalicão por Santana Lopes.
O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, homónimo de apelido, é tão próximo de Rui Rio como de figuras da direção do grupo parlamentar, em Lisboa, que já deram o aceno de cabeça a Santana, devendo o autarca manter a neutralidade.
Ontem, a distrital de Évora declarou apoio ao ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia. Portalegre, por sua vez, já o SOL informou há largos meses, está com Rio. Leiria, de onde Feliciano Barreiras Duarte, um dos homens de Rio, é oriundo, viu outro notável apoiar Santana esta semana: Fernando Costa. O autarca veterano foi um dos muitos (ultrapassaram o milhar) que foram a Santarém, no domingo passado, ouvir Santana apresentar a sua candidatura a presidente do ‘PPD/PSD’.
O discurso demorou 53 minutos e contou uma história maior. Santana, como Rio, escolheu um distrito que o apoia para a apresentação. Aí, procurou não fugir do passado e explicou como quer construir uma «nova base» para o futuro.
O anunciante, no microfone, era o mesmo que apresentava Pedro Passos Coelho nos comícios da campanha autárquica e não foi o único rosto familiar. Os vice-presidentes de bancada Carlos Abreu Amorim, Sérgio Azevedo e Nuno Serra estiveram, assim como os deputados Duarte Marques, Cristóvão Crespo e Fernando Negrão, entre outros. Pedro Pinto, presidente da distrital de Lisboa que tem sido inseparável de Santana levou o vice, Ângelo Pereira. Dos antigos santanistas, destacaram-se Rui Gomes da Silva, ex-ministro, e Carlos Eduardo Reis, antigo porta-voz da juventude de Santana. Ambos fazem parte de um grupo de revisão estatutária para o congresso de janeiro.
Rui Machete, presidente da Comissão de Honra da campanha, apresentou o candidato. Ao SOL, descreveu-o como «um homem que fala de uma maneira que as pessoas entendem, sobre matérias que as pessoas reconhecem que são verdadeiramente importantes e que lhes dizem respeito». No discurso, revelou que as qualidades de Santana Lopes já chamavam, na altura, «a atenção de Francisco Sá Carneiro».
«Com Pedro Santana Lopes como presidente do partido há maior e melhor probabilidade do partido voltar ao governo e retomar a construção de uma sociedade aberta e humanista», previu o antigo ministro de Passos Coelho.
Santana tomou, então, o púlpito e não receou uma retrospetiva. «Aprendi em 2004 e 2005 que a legitimidade do voto não se herda: conquista-se». Não comparou, ou prometeu não comparar, «os factos que se seguiram depois do golpe de Estado» que fez com que deixasse de ser primeiro-ministro há 12 anos, quando Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia da República e depois José Sócrates venceu as eleições com o PS.
«Outros acontecimentos posteriormente [aconteceram] e à espera de julgamento [hoje]», também não foram comentados, mas aludidos, e fizeram sala irromper em palmas. «Não vou comparar quem veio a seguir [a Sócrates e está] no governo atual», novamente não comentando, mas tocando no ponto certo.
Do PS passou-se para o ataque ao seu adversário atual, Rui Rio e a apoiantes como Pacheco Pereira. «Nunca fui para a Aula Magna fazer sessões com o Bloco de Esquerda; nunca fui para a Associação 25 de Abril ouvir elogios de Vasco Lourenço, quando o PSD salvava o país da bancarrota». Santana desafiou inclusivamente Rio para debates organizados pelas distritais, mas Rio recusou, considerando a ideia «um circo».
Costa também não escapou ao vexame e escutou-se um primeiro ensaio de liderança de oposição. Para Santana Lopes, «o Governo é mau para o país e há que mostrar aos portugueses que há melhor». De que maneira? Com um PSD «mais popular, mais junto das pessoas». A vontade de ser primeiro-ministro, essa, continua lá: «Falarei com May, como falei com Tony Blair; falarei com Rajoy como falei com Zapatero».
Perto da conclusão, Santana evocaria Marcelo – algo que tornaria a fazer em entrevista a meio da semana – para elogiar o Presidente da República. «O PPD deve sentir orgulho de Portugal ter o Presidente da República que tem» por este ser «a voz da consciência nacional quando os governos não a ouvem», defendeu, numa referência evidente à reação de Belém aos últimos incêndios. Ao SOL, Santana voltou a concordar com Marcelo: um pacto de regime com reformas contra a repetição da tragédia seria, disse, «muito importante».
Esta semana, o candidato inaugurou também a sua sede de campanha, na Avenida da República, em Lisboa, onde tem reunido com a sua equipa e com novos apoios. Teresa Morais, atual vice-presidente de Passos, tem cuidado do programa, João Montenegro continua a dirigir a máquina e Miguel Santos (deputado e vice da distrital do Porto) chegou para a coordenação política. Atrás da secretária de Santana Lopes, na sede, está, claro, um retrato de Francisco Sá Carneiro.