«À espécie humana apenas se pode permitir uma guerra: a guerra contra a sua própria extinção».
Isaac Asimov
Amplificadas sobremaneira pelos novos e velhos media, e pelo exército das redes sociais, alimentadas pelo generalismo, têm na maioria das vezes chocado de frente com a realidade, com aquilo que é considerado ‘normal’.
Esse exagero tem criado mais problemas do que encontrado soluções. Tem provocado mais transtornos e divisões do que o expectável, até por alguns dos seus ativistas.
Esse exagero tem sido responsável por muita crispação e divisão, que desnecessariamente existe em vários setores da sociedade. As utopias modernas têm-se destacado sobretudo na chamada área dos costumes, com uma agenda muito acutilante, provocadora, ruidosa, polémica, fora da realidade e das prioridades das sociedades contemporâneas, como é o caso da portuguesa.
Essa agenda alimenta-se pouco das exigências da sociedade e daquilo que é a realidade. Pelo contrário, alimenta-se do seu choque. É uma agenda que não representa a maioria dos cidadãos, independentemente das suas idades e condições sociais. Porque a esmagadora maioria das suas propostas não vai ao encontro daquilo que preocupa o cidadão comum na normalidade das suas vidas.
Seja a procriação medicamente assistida, a adoção gay, a eutanásia, a extinção das Forças Armadas – de entre várias outras matérias –, todas as propostas têm abalado e provocado clivagens, divisões desnecessárias em vários grupos sociais e etários.
E se faz sentido que, num mundo global, numa sociedade suficientemente aberta, saibamos acomodar, por antecipação ou reação, as alterações políticas, económicas e sociais que se impõem, é manifestamente exagerada a obsessiva vontade de afrontar muito do que é estável, muito do que é normal, muito do que suporta, solidifica e dá estabilidade à vida em sociedade da esmagadora maioria dos cidadãos.
Esta ideologia de minorias que vivem quase só para as suas próprias causas, e que se esquecem das maiorias, tem as prioridades invertidas. E dessintonizadas e desfocadas do que é importante para a esmagadora maioria dos cidadãos.
Mas atenção: não se pense que é fácil assumir posições contrárias à agenda das ‘utopias modernas’. E não é fácil pôr em causa muito do que têm em vista, muito do que propõem e muito do que acabam por ser os danos por elas provocados.
Hoje existe uma espécie de ‘Bloco Central nos media e nas cúpulas da classe política’ que procura fazer de conta que esta agenda é o normal – e que todos se devem resignar perante os seus propósitos e os seus efeitos. Essa espécie de ‘Bloco Central nos media e nas cúpulas da classe política’ tem medo destas utopias ditas modernas; não concorda com muitas das coisas que estão na base da sua propositura; não concorda com os efeitos que visa alcançar; acha um manifesto exagero as inversões de prioridades – mas, por causa desse medo, tem pouca coragem para divergir e pôr em causa a obsessiva procura da desestruturação de tudo o que é normal.
Esse medo é o pai da resignação – que infelizmente verificamos existir na sociedade e na política, quando estão em causa propostas ultra minoritárias para pôr em causa as maiorias.
É curioso que muitos dos que transformaram os seus medos em resignações (e nalguns casos até em apoios) sejam também dos mais pródigos a dizer, alto e bom som, que precisamos de um banho de ética política e de moral pública.
O seu comportamento é nocivo e errado, porque as sociedades contemporâneas inclusivas e plurais são suficientemente maduras – e estão dotadas dos suficientes instrumentos jurídicos – para, na observância do Estado de direito democrático, fazerem cumprir os direitos, liberdades e garantias, e respeitarem os direitos humanos consagrados no quadro do direito internacional.
Daí que se deva procurar moderar, nuns casos, e impedir, noutros, a agenda exagerada das utopias e o seu confronto com a realidade e com aquilo a que bem poderemos qualificar como sendo ‘normal’. Muitos portugueses – e até alguns dos seus eventuais destinatários – perdem com estas propostas.
Existe uma maioria silenciosa que não concorda com muito do que tem sido proposto. Mas, sejamos francos, hoje existe a ‘moda’ política e social de fechar os olhos, encolher os ombros, engolir em seco, só para não se ser considerado gente retrógrada, nada moderna e pouco apetecível para os media.
Também por isso respeito mais os que, por convicção, fazem estas propostas – do que os que as apoiam por moda, por medo de não serem politicamente corretos, por receio de não serem apetecíveis para jornalistas e a comunicação social.
Estes não podem reclamar respeito – antes pelo contrário. Porque aceitam ser os idiotas de serviço das utopias modernas. Que, aliás, de modernas têm pouco. Como é fácil de provar. Mas tal fica para outras contendas.
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