FC Porto. É só seguir os exemplos de Jesualdo e Robson

Em 1993/94 e 2008/09, o FC Porto também entrou na quarta ronda da fase de grupos da Champions com uma vitória e duas derrotas. Fez-se à vida, arregaçou as mangas e conseguiu o apuramento para a fase a eliminar. Está tudo nas mãos de Sérgio Conceição y sus muchachos

FC Porto. É só seguir os exemplos de Jesualdo e Robson

Uma vitória histórica e duas derrotas surpreendentes – e perfeitamente evitáveis. É este o pecúlio do FC Porto na edição 2017/18 da Liga dos Campeões, decorridas que estão três jornadas. Aquando do sorteio, não se antevia um cenário tão sofrível para os dragões – o Mónaco de Leonardo Jardim é o campeão francês em título e chegou às meias-finais da competição na última época, mas sofreu uma razia no plantel; o Besiktas, também campeão turco, é uma equipa tradicionalmente complicada, mas teoricamente acessível para os portistas; e o Leipzig terminou em segundo lugar na última Bundesliga, mas não tem qualquer experiência de competições europeias nem um único nome sonante.
A entrada em falso dos dragões na receção ao Besiktas foi atenuada com a brilhante vitória no Mónaco. Seguiu-se, porém, um descalabro defensivo na Alemanha que redundou na primeira vitória europeia de sempre do Leipzig e deixou as contas portistas mais complicadas. Um triunfo esta noite no Dragão perante o mesmo incómodo adversário, todavia, pode reverter novamente a situação e recolocar o FC Porto na rota do apuramento – e à hora em que o encontro tem lugar, o Besiktas até já pode ter carimbado o apuramento: basta-lhe vencer o Mónaco, numa partida que começa logo às 17 horas em Istambul.

No passado, os dragões têm dois bons exemplos aos quais se podem – e devem – agarrar: o de 1993/94 e o de 2008/09. No primeiro caso, umFC Porto de esperança renascida com Bobby Robson ao comando, depois de um início aos soluços ainda com Tomislav Ivic no leme, potagonizou uma segunda volta brilhante, goleando na Alemanha o Werder Bremen (5-0), batendo o Anderlecht nas Antas (2-0) e segurando um saboroso 0-0 também nas Antas frente ao poderoso AC Milan de Fabio Capello – que viria a ganhar a competição, goleando na final o Dream Team de Johan Cruyff por concludentes 4-0. Aqui, refira-se, as vitórias ainda valiam apenas dois pontos.

No segundo caso, na terceira temporada de JesualdoFerreira ao comando, os dragões haviam entrado a ganhar (3-1 ao Fenerbahçe no Dragão), sendo depois goleados em Londres pelo Arsenal (4-0) e, de forma surpreendente, perdendo em casa com o Dínamo Kiev (0-1). Alguma semelhança com a atualidade é pura coincidência… Na volta decisiva, porém, os azuis-e-brancos arrepiaram caminho: foram vencer a Kiev e a Istambul pelo mesmo resultado (1-2) e acabaram a bater o Arsenal no Dragão (2-0), terminando mesmo o grupo em primeiro.

Há cenários ainda mais assinaláveis. Em 2004/05, por exemplo, um FC Porto campeão europeu em título só tinha um ponto por esta altura e acabou a conseguir a passagem, com uma vitória milagrosa no Dragão sobre o Chelsea de José Mourinho (2-1). E houve situações também em que, com os mesmos três pontos à terceira jornada, ficou mesmo pelo caminho: 2005/06, com Co Adriaanse no banco, e 2013/14, sob o comando de PauloFonseca.

No dragão manda o dragão

Estão, portanto, traçados todos os cenários possíveis para o FC Porto de Sérgio Conceição. A julgar pelo discurso do técnico portista, a vitória será o único desfecho plausível esta noite. “Sabíamos como o Leipzig jogava: o que era a tentativa de recuperação de bola, o pressing muito forte na nossa construção de jogo. Devíamos ter feito mais, porque estávamos preparados para isso. Cometemos alguns erros coletivos e individuais e fomos penalizados por isso. Essa agressividade no jogo é uma característica da nossa equipa e temos de ser a equipa que temos sido no campeonato. Na Alemanha, foi um jogo menos conseguido também nesse aspeto. Amanhã [Hoje] temos de entrar com uma dinâmica e intensidade fortes. Com vontade de ganhar cada duelo desde o início. Isso é determinante para o resto do jogo”, realçou Conceição, que considera o Leipzig “um dos principais candidatos a ganhar a Bundesliga e uma das melhores equipas da Europa”. “Acompanho o campeonato alemão e talvez seja o mais competitivo do mundo. É uma equipa com jogadores que gostam de jogar por dentro, rápida no último terço, muito vertical”, acrescentou.

Do outro lado, estará uma equipa matreira, com setas apontadas à baliza portista e com um discurso muito prático: segundo o seu técnico, o empate “não será um mau resultado”. “Temos de ter em conta o facto de o confronto direto com o FC Porto ser bastante importante, pelo que um ponto não será um mau resultado, embora o objetivo seja vencer. Não iremos focar-nos no aspeto defensivo, mas também no ofensivo para fazer aqui um bom resultado”, prometeu ainda assim Ralph Hasenhuttl, deixando no ar a possibilidade de Bruma voltar a ser titular frente aos dragões: “O Bruma é um jogador importante, tem treinado bem. Contra o Bayern queria tê-lo colocado em campo mais cedo.”

No FC Porto, ao lesionado de longa duração Soares, juntou-se agora Otávio, a contas com uma rotura muscular. Condicionantes que não chegam para beliscar as ambições de um dragão autoritário e dominador, especialmente no seu terreno. “Ofensivamente, produzimos muitas ocasiões de golo. Se jogarmos rápido e formos intensos e agressivos no nosso jogo podemos criar muitas oportunidades e certamente faremos golos. Ainda não conseguimos vencer um jogo em casa na Liga dos Campeões. Temos de limpar essa imagem. Estamos em nossa casa, a jogar perante os nossos adeptos. Temos de dar o exemplo e entrar fortes, unidos e vencer o jogo”, salientou Danilo. Veremos se será assim esta noite.