PSD. Rui Rio quer criar um governo-sombra

O antigo autarca lembrou que o Estado Novo durou 41 anos e que o regime atual, com idade similar, também pode acabar

Foi uma intervenção germânica: estruturada, preparada, meticulosa. Rui Rio já não é o favorito a suceder a Pedro Passos Coelho na liderança do PSD – até porque, neste momento, não há favorito de todo –, mas a intervenção do ex-presidente de Câmara do Porto nas jornadas parlamentares do partido, em Braga, impressionou alguns dos deputados pela sua solidez. Um dos presentes, que esteve depois junto dos “rioistas”, salientou o “discurso” e algumas novidades não ditas mas planeadas, como “um governo-sombra”, que seria novidade em Portugal, seguindo o modelo inglês de ter um ministro da oposição para cada pasta coberta pelos ministros no governo. 

A ideia foi depois confirmada com um dos conselheiros veteranos de Rio e fonte da estrutura de campanha clarificou que “sim, haverá conselheiros específicos por áreas, mas não se vai andar a prometer lugares por antecipação”. 

O nome “governo-sombra”, que remete nacionalmente para um programa de televisão, é que não agrada, mas a necessidade de estarem “prontos para entrar em funções no dia a seguir às eleições” é vista como imperativa, assim como “a lógica de equipa” que o modelo proporciona. 

De resto, na intervenção em Braga, Rio voltou a lembrar o risco de desaparecimento que o PSD corre – estabelecendo um paralelismo com o PASOK grego – e defendendo a importância de reforçar a participação cívica. 

Neste sentido, Rio não apontou apenas ao tempo de vida do seu partido, mas também ao tempo de vida do próprio regime. A iii República, recordou, vai em 41 anos de democracia (desde a Assembleia Constituinte e das primeiras eleições livres): exatamente “a mesma idade que o Estado Novo tinha quando caiu”, lembrou Rio, na senda de que nada é eterno e de que é necessária uma “reinvenção”. 

Maria Luís, mas qual delas? Talvez tentando enterrar o machado de guerra com o “passismo”, Rio atribuiu, na mesma intervenção, elogios a Maria Luís Albuquerque. A ex-ministra das Finanças de Pedro Passos Coelho estava sentada na plateia e, segundo o “Observador”, tendo depois o i confirmado, Rio dirigiu-se-lhe diretamente. “Não, não vou mudar a estratégia do PSD. Faria igual a Maria Luís Albuquerque.” 

Dito de outro modo: o rigor nas contas públicas é para ficar e não é de agora. A posição de Rio sobre Maria Luís Albuquerque é que parece não ter a mesma coerência. 

Em 2013, numa entrevista à RTP, o então autarca considerava a ministra do PSD como “muito má”, “um erro”, “uma pedra no sapato” e um “elo fraco” na remodelação do executivo de Passos Coelho. 

“É uma pessoa que chega ao parlamento e não fala a verdade”, acusou. “Deixo para a oposição dizer se ela mentiu ou não”, atirou novamente contra a governante que, a seu ver, não tinha “condições para desempenhar” o cargo e que “evidentemente não” seria sua ministra das Finanças, caso fosse Rio o primeiro- -ministro. 

Volvidos quatro anos, agora como candidato a sucessor de Passos e já não como autarca, Rio diz que teria feito “igual” a Maria Luís quando, na altura, a acusou de não ter “a coerência mínima”.

 

(Notícia atualizada às 12h17. Durão Barroso constituiu um governo-sombra 2000/2001, de oposição a Guterres)