A geringonça vai aprovar hoje o seu terceiro Orçamento do Estado. O cenário não é muito diferente do dos anos anteriores. PS, PCP e Bloco de Esquerda votam a favor e a direita vota contra. A principal diferença é que o governo chega a esta discussão fragilizado pela tragédia dos incêndios que levou à morte de mais de 100 pessoas. António Costa agarrou-se, desde o início do debate na generalidade, aos bons resultados da economia. “À convicção de que este virar de página não era só desejável como possível juntamos agora os resultados produzidos por esta mudança política”, afirmou, na sua primeira intervenção, o primeiro-ministro.
Costa deu cinco razões para para mostrar que a geringonça valeu a pena: “A confiança dos consumidores encontra-se nos valores mais altos de sempre”, o “investimento em volume teve o maior crescimento dos últimos 18 anos”, a taxa de desemprego recuou 8,6%, a “economia regista o maior crescimento desde o início do século” e, pela primeira vez nos últimos 10 anos, o país cumpriu as metas orçamentais, registando “o défice mais baixo da nossa democracia”.
Aos bons resultados lançados pelo primeiro-ministro no início da discussão, o PSD chamou “propaganda eufórica”. O social-democrata António Leitão Amaro acusou Costa de ser um otimista “inconsciente” e criticou o orçamento por não cuidar do futuro. “O que traz de favorável para as empresas? Nada. Que medidas traz para as exportações? Nada. Reformas? Nada.”
Costa socorreu-se do diabo para responder ao PSD. “O diabo não está cá, os resultados são bons e o PSD não consegue esconder a sua enorme frustração”, afirmou o primeiro-ministro, dirigindo-se à bancada do PSD, que tinha na primeira fila Passos Coelho e a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque.
Não é a primeira vez que o primeiro-ministro aproveita o vaticínio de Passos Coelho, antes das férias de Verão de 2016, de que “vem aí o diabo” para responder às críticas do PSD. Ontem, Costa acusou os sociais-democratas de estarem frustrados com os bons “números da economia”.
Assunção Cristas, na linha do que já tinha feito o PSD, também justificou o crescimento com “uma conjuntura externa muito favorável, que praticamente nenhum primeiro-ministro teve” e considerou que este “é um orçamento desigual, de vistas muito curtas e pouco transparente”.
Para a presidente do CDS, este “é o orçamento dos que olham para a sociedade como grupos de interesse e distribuem recursos pelos mais ruidosos, esquecendo todos os que não organizam greves. É o orçamento dos que nunca geriram uma empresa ou criaram postos de trabalho. É o orçamento dos habilidosos, dos truques dos que olham para o país como um tabuleiro de jogo”.
À esquerda, Catarina Martins começou com críticas à direita por acusar a geringonça de servir para alimentar clientelas. “A mesma direita que baixou os impostos às maiores empresas do país, que fez negócios da China na energia, nos vistos gold ou nas privatizações, chama servir clientelas a aumentar salários e pensões. Não nos meçam pela vossa bitola, não nos confundam. Estamos a trabalhar por quem vive do seu trabalho”. Foi Mariana Mortágua, mais tarde, a defender que “a resposta deste orçamento é insuficiente face ao que é necessário e é insuficiente face aos compromissos que foram assumidos”.
O PCP também considerou que o governo poderia ter ido mais longe. João Oliveira garantiu, porém, que os comunistas tudo farão para que a política praticada pela direita “fique definitivamente enterrada no passado”.