China quer construir um túnel de água de 1000 km

Governo chinês está a estudar a possibilidade de conseguir fazer florescer as zonas desérticas de Xinjiang com água pura dos Himalaias. Será uma maravilha da engenharia.

O projeto pode ser controverso e alimentar ainda mais os conflitos fronteiriços com a Índia, mas isso não impede o Governo chinês de pensar na transformação do  deserto de Taklimajan, na província de Xinjiang, numa «nova Califórnia». O projeto ainda não saiu do papel e vai ser de difícil concretização, uma maravilha de engenharia que trará água pura do planalto tibetano (conhecido como o reservatório de água da Ásia, de onde saem anualmente mais de 400 mil milhões de toneladas de água) através de um túnel de mil quilómetros de extensão.

Para se ter noção da real dimensão da obra, diga-se que o maior túnel existente atualmente tem 137 km de comprimento, o aqueduto de Delaware, nos Estados Unidos, terminado de construir em 1945. O maior túnel chinês até ao momento é o de Dahuofang, na província de Liaoning, no extremo oriental do país. Foi inaugurado em 2009, tem 85 km e também serve para transportar água.

O plano é ambicioso, quer pela dimensão da obra, quer pela política envolvida. A água virá do Tibete – incorporado na China em 1951, ocupação contestada internacionalmente, nomeadamente pelo seu líder religioso, o Dalai Lama – para irrigar uma província de maioria uigur, etnia muçulmana separatista que tem sido reprimida pelo governo de Pequim.

Além disso, a água será captada no rio Yarlung Tsangpo, no sul do Tibete, o mesmo rio que mais a jusante, em território indiano, se torna o Brahmaputra e se junta ao Ganges já no Bangladesh. Numa zona de conflitos fronteiriços entre China e Índia, há ainda a acrescentar o facto de parte da província de Xinjiang ser a região de Aksai Chin, ocupada pela China em 1962 durante a guerra sino-indiana, que Nova Deli reclama como sendo parte da sua província de Jammu e Caxemira.

Em termos de engenharia, o Governo chinês pretende usar outro túnel, no centro da província de Yunnan, junto à fronteira com Myanmar, como ensaio para grande parte das soluções que vai precisar para trazer água do Tibete para Xinjiang. O túnel de Yunnan começou a ser construído em agosto e, quando finalizado, terá 600 km de extensão, dividido em 60 partes com largura suficiente para dois comboios de alta velocidade. Os seus desafios serão semelhantes aos que os investigadores terão de enfrentar no túnel de Xinjiang, atravessando montanhas a milhares de metros de altitude numa zona geologicamente instável.

A engenharia chinesa conta testar novas tecnologias, inovadores métodos de engenharia e equipamento desenvolvido propositadamente para trabalhar em condições adversas de alta montanha. «O projeto de desvio de água será um projeto de demonstração. Servirá para mostrar se temos cérebro, músculo e ferramentas para construir túneis superlongos em terrenos perigosos e os custos não levarão o banco à falência», contou ao South China Morning Post,  Zhang Chuanqing, investigador no Instituto de Mecânica das Rocha e do Solo de Wuhan.