A Altice aposta na convergência. O objetivo com a compra da Media Capital, que a Altice está confiante de que irá acontecer, é replicar o que tem feito com as suas diversas empresas de média em França, inserido numa estratégia de tornar a companhia um player global de tecnologia.
As sinergias entre as várias publicações são a chave da estratégia da Altice para os média dentro do modelo no qual as empresas de telecomunicações convergem com as empresas de média para a produção e distribuição de conteúdos, conseguindo assim aumentar as receitas de publicidade na transição para o digital.
“A convergência é uma boa forma de conseguir mais subscritores. É uma boa forma de conseguir estabilizar os clientes, porque quem for assinante de programas, como por exemplo os desportivos, prefere não mudar de operador”, diz o CEO da Altice Media, a empresa responsável pelos média dentro do grupo de telecomunicações francês. “É também uma boa forma de conseguir receita quer para as telecoms quer para as produtoras de conteúdos”, já que se “vendem serviços de telecomunicações e também conteúdos”, acrescenta Alain Weill, que recebeu o i em Paris, na sede da empresa.
É, para além disso, “boa para melhorar as margens” quer de umas, quer de outras. “À margem do negócio das telecomunicações junta-se a margem do negócio dos conteúdos. Por isso, a convergência é boa para as finanças das empresas”, remata.
Para já, o negócio de compra da Media Capital pela Altice, orçamentado em 440 milhões de euros, está a ser avaliado pela Autoridade da Concorrência (AdC), depois de a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) não ter chegado a um consenso. Antes, o negócio já tinha sido chumbado pela Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), ao considerar que a operação ameaça a concorrência.
O responsável pelo negócio de média da Altice está convencido de que a AdC vai aprovar o negócio uma vez que, na sua opinião, este é “bom para Altice, bom para a Media Capital e bom para os portugueses”. Alain Weill diz estar “confiante que é uma boa operação, porque acho que teremos oportunidade de acelerar o desenvolvimento da Media Capital”.
Segundo Weill, “talvez só as empresas de telecomunicações sejam aquelas que têm oportunidade de ser competitivas em relação às GAFA”.
As GAFA (Google, Amazon, Facebook e Apple) estão a dominar o mercado, uma vez que dominam quase 85% do mercado da publicidade.
Para além disso, o empresário considera que a “Europa deve ter empresas fortes nesta área” e que a ambição da Altice passa por ser um player global com capacidade de rivalizar com as gigantes norte-americanas.
“Penso que terá de haver empresas europeias fortes e, por isso, a fusão entre as telecoms e os média é uma boa solução para propor”, defende.
Know-How
Alain Weill argumenta que a Altice adquiriu “know-how na produção de conteúdos” e que em “Portugal será a mesma coisa”. Caso se confirme a compra, a expetativa é que haja oportunidades “de desenvolver novos canais porque, com a aquisição da Media Capital, a Altice vai desenvolver know- -how” e, ao mesmo tempo, “lucrar com o know-how e o sucesso da Media Capital”.
O responsável afirma que a decisão de comprar a Media Capital “tem a ver com o facto de esta ser o primeiro grupo de média em Portugal, a primeira televisão comercial e líder dos canais de informação”.
A Altice Media é também líder nos canais de informação em França, com a BFMTV, e também controla dois grupos de rádio. A Media Capital é também o primeiro grupo de rádio em Portugal, pelo que Weill “está confiante que esta “é uma boa operação, porque acho que teremos oportunidade de acelerar o desenvolvimento da Media Capital, para criar novos canais de filmes e séries, e talvez possamos criar novos de desporto”.
Também o CEO da Altice considera que a proposta de compra da Media Capital é “boa para a Altice, para a Media Capital e para Portugal”. Ontem, em conferência de imprensa durante a Web Summit, Michel Combes considerou que a proposta vai “alavancar as possibilidades de a Media Capital entregar conteúdo”, ao mesmo tempo que ajuda a “Media Capital a abraçar a transição para o digital”, considerando que o “negócio é do interesse de ambos os lados”.
O CEO da empresa garante que os conteúdos da dona da TVI estarão nos outros operadores e que, “à semelhança de todos os outros média, haverá independência editorial. Esta é a nossa proposta para a Media Capital. Agora depende dos reguladores”, afirmou.
Também ontem, na Assembleia da República, o ministro da Cultura, que tem a tutela da Comunicação Social, considerou que “o governo deve aguardar o parecer das entidades reguladoras e da Autoridade da Concorrência, a quem cabe a última palavra [sobre] se o negócio da Altice viola ou não os princípios da concorrência”.
Luís Filipe Castro Mendes, questionado sobre o tema, disse que “não cabe ao governo substituir-se aos reguladores”.