Nascido no Pragal, em Almada, a 4 de janeiro de 1995, Miguel Oliveira estaria certamente longe de imaginar que aos 22 anos seria ele o responsável por colocar o motociclismo mundial a falar português. Ou talvez não. Embora o almadense se tenha tornado no primeiro piloto português a participar num Campeonato do Mundo de Motociclismo a tempo inteiro, a paixão pela modalidade vem desde o tempo em que, para muitas crianças, a mota não passa do brinquedo favorito lá de casa.
Tinha apenas 9 anos quando iniciou a sua carreira desportiva. Logo na estreia, termina em 4.º lugar no campeonato nacional de MiniGP. A idade, correspondente à de uma criança que frequenta o quarto ano de escolaridade, não foi razão de impedimento para o mini Miguel ser condecorado pela Confederação Desporto de Portugal, que desde cedo lhe reconheceu talento.
A partir daí as conquistas foram sempre uma meta alcançada. Em 2005, o pequeno Miguel vence o campeonato Português de MiniGP e o World Festival Metrakit em Espanha, frente a 192 pilotos oriundos de 14 nações! Aos 11 anos, em 2006, revalida o título nacional e termina em 2.º a Copa Calypso. Um ano volvido, em 2007, com 11 anos, o pré-adolescente Miguel já subia de categoria e triunfava no Mediterrâneo Pre-GP125.
Os sucessos desportivos foram uma constante. Se em 2009, carimbou o terceiro lugar no CEV (Campeonato Nacional Espanhol), prova em que passou a competir, e terminou no 5º. posto no campeonato da Europa, em 2010, Miguel Oliveira já se sagrava vice-campeão da Europa.
Títulos atrás de títulos. Era essa a realidade deste jovem prodígio, que, todavia, ainda nem sequer fantasiava com o feito inédito que haveria de alcançar no Campeonato do Mundo.
Estreia no campeonato do Mundo
O ano de estreia não foi fácil para o jovem piloto português. Com 16 anos, e a correr na categoria 125cc, Oliveira, que se estreou ao serviço da equipa espanhola Andalucia Banca Civica, acabaria por fechar a temporada no 14.º lugar, após ter participado em somente 11 corridas. Regressou em grande, com a entrada em Moto3, no ano seguinte, a tempo inteiro. Corria o ano de 2012, e aos comandos da Sutter Honda na equipa da Estrella Galicia, o piloto português conquistou os seus dois primeiros pódios (Catalunha e Austrália), ficando em oitavo nesse campeonato. Além do 8.º lugar, nos quatro anos em que disputou o campeonato do Mundo de Moto 3, entre 2012 e 2015, Oliveira ainda viria a conquistar um sexto e um décimo lugar, desta feita pela Mahindra Racing, sendo que o seu melhor resultado havia de chegar enquanto piloto da Red Bull KTM Ajo, na última temporada pela Moto3. Aos 20 anos, o piloto natural de Almada era consagrado vice-campeão, com uma diferença pouco considerável para o campeão (seis pontos), o piloto britânico Danny Kent. Contudo, o feito de Miguel foi suficiente para o jovem dar o salto para a categoria intermédia do motociclismo, Moto2, onde atualmente marca presença.
Sem pressa para a categoria rainha
O ano de 2016, temporada em que ascendeu à categoria intermédia do motociclismo, integrando a equipa da Leopard Racing, fica essencialmente marcado pela fratura da clavícula, uma lesão que obrigou o almadense a falhar quatro Grandes Prémios.
O 21.º lugar conquistado em mais um ano de estreia esteve longe de fazer justiça à capacidade de Miguel Oliveira. A prova disso mesmo acabaria por chegar este ano, temporada que fica marcada pelo retorno do piloto português à antiga equipa: Red Bull KTM Ajo.
O resto da história é bem conhecida de todos. Após os dois primeiros lugares históricos, no circuito australiano e, mais recentemente, na Malásia, Miguel Oliveira, que subiu oito vezes ao pódio esta temporada (soma ainda dois segundos lugares e quatro terceiros), já garantiu a 3.ª posição final no Mundial de Velocidade.
Corridas 17 das 18 provas que constituem o Mundial, o próximo e último desafio realiza-se em solo espanhol, no circuito de Valência, nos dias 10, 11 [sessões de treinos] e 12 de novembro.
Com a subida ao pódio agendada, independentemente do resultado deste fim de semana em Espanha, Miguel Oliveira tem mais um ano de contrato com a sua atual equipa e espera ‘atacar’ a subida à categoria rainha do motociclismo mundial na próxima temporada.
Sem pressas, por ora é momento de confirmar toda a sua qualidade técnica. «É um sonho chegar ao MotoGP, mas não tenho vontade de acelerar este processo. Sinto que o correto será passar mais um ano em Moto2 para assim continuar a somar mais pódios, vitórias e realmente confirmar a minha qualidade técnica, não só para as equipas que possam estar interessadas, mas também para mim próprio», explicou em entrevista concedida à Rádio Renascença.