O comando militar das Nações Unidas divulgou esta terça-feira em Seul o momento em que um soldado norte-coreano desertou e foi gravemente alvejado por outros militares. A gravação, capturada pelas câmaras de vigilância sul-coreanas na chamada JSA – Joint Security Area –, mostra como o soldado tentou cruzar a fronteira com um jipe do Exército, sofrendo um acidente e fugindo depois a pé. Ao cruzar a linha invisível que separa os dois países, o soldado foi repetidamente alvejado. A fuga deu-se na semana passada.
O militar, conhecido apenas pelo nome de família, Ho, foi atingido quatro vezes, ficou gravemente ferido, mas no domingo acordou de um coma e parece estar agora fora de perigo. O vídeo mostra que Ho esteve a segundos de ser apanhado por outros militares norte-coreanos. Um deles atinge-o com uma espingarda automática quase à queima-roupa e outros disparam pistolas à distância. Ho perdeu os sentidos já no lado sul-coreano, metros depois da fronteira e junto a um muro, onde foi rapidamente resgatado por militares de Seul.
O vídeo divulgado esta terça revela alguns aspetos importantes na fuga. Um deles é que a JSA, ao contrário da DMZ – a segunda zona desmilitarizada, onde se encontra o paralelo 38 –, não tem em nenhum dos lados quaisquer barreiras que impeçam o trânsito pela fronteira. Ho aproveitou-se disso para correr na direção da linha invisível quando o seu jipe embateu contra uma zona relvada, aparentemente ficando sem uma roda. O soldado ainda tentou reiniciar a marcha, mas a chegada de outros militares obrigou-o a fugir a pé.
As Nações Unidas confirmaram também esta terça que a deserção de Ho provocou várias violações norte-coreanas do armistício assinado em 1953. O vídeo demonstra-as. Em primeiro lugar, os soldados de Pyongyang que tentavam evitar a fuga de Ho dispararam para o lado sul-coreano da fronteira, o que viola as restrições ao uso de violência nas zonas desmilitarizadas. Para além disso, um dos soldados do Norte, o mesmo que disparou a espingarda automática contra Ho, cruza por momentos a fronteira, embora rapidamente volte atrás.
“De um ponto de vista médico, ele estava quase morto quando o trouxeram cá”, conta o cirurgião sul-coreano que operou Ho, Lee Cook-Jong, citado pela Reuters. O médico adianta também que o desertor norte-coreano “está bem”, embora com sinais de depressão, trauma e ainda nos cuidados intensivos. A recuperação de Ho foi mais difícil do que o esperado, uma vez que o soldado apresentava uma infeção grave de parasitas – um deles tinha 27 centímetros de comprimento. “Ele não vai morrer”, garante Lee.