Depois dos filhos de Eduardo dos Santos, são demitidos ministros, gestores de empresas públicas, militares, responsáveis da comunicação social, altos funcionários da administração do Estado.
E isto tudo apenas dois meses depois de o novo Presidente, João Lourenço, tomar posse.
O que se passa em Angola? Isto faz-me lembrar, mais do que uma democratização, as ‘purgas’ que normalmente se sucedem aos golpes de Estado. É como se Lourenço tivesse descoberto uma grande conspiração contra ele – e estivesse a afastar os golpistas.
Isto também seria natural se o novo Presidente tivesse conquistado o poder através de um golpe. Mas João Lourenço recebeu pacificamente o poder das mãos de Eduardo dos Santos.
Como entender então esta sangria?
Só vejo duas hipóteses.
Primeira hipótese: Lourenço está a lutar desesperadamente pela sobrevivência, e temia que, se não ‘corresse’ com aquela gente, eles acabariam por ‘fazer-lhe a cama’;
Segunda hipótese: Lourenço está confortável com o poder que tem e sente-se com a força necessária para meter nos postos-chave pessoas da sua confiança.
No primeiro caso, se for uma luta pela sobrevivência, as demissões compreendem-se – mas significam que a situação em Angola está periclitante e em qualquer altura pode degenerar em guerra aberta.
No segundo caso, se for apenas uma manifestação de poder, parece-me pouco recomendável.
Estas demissões, com destaque para o afastamento dos filhos de Eduardo dos Santos, foram – em linguagem futebolística – uma ‘entrada a pés juntos’.
Ora, estas entradas podem ser punidas com cartão vermelho. E isso ainda é mais verdadeiro em África, onde as instituições não existem e a base do poder é instável.
Os próximos dias darão com certeza respostas a estas dúvidas.