Teodoro Obiang (Guiné Equatorial), Paulo Biya (Camarões) e Yoweri Museveni (Uganda) são agora os representantes máximos de um clube onde mudar as leis, afastar opositores e quebrar promessas são hábitos rotineiros para a conservação da imortalidade.
De recorde em recorde até à transição familiar
Teodoro Obiang (38 anos) – chegou à presidência em 1979, depois de afastar o tio, e foi reeleito seis vezes (1982, 1989, 1996, 2002, 2009 e 2016).
País: Guiné Equatorial
Idade: 75 anos
Chegada ao poder: Golpe militar
Volvidos 38 anos, José Eduardo dos Santos cedeu enfim o seu lugar na presidência angolana a João Lourenço, mas a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa não deixou de continuar representada no ranking dos líderes com mais de 30 anos de poder consecutivo no continente africano. No topo da lista já estava, e continua a estar, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, o presidente da Guiné Equatorial, que em 1979 tomou o poder ao tio, Francisco Macías Nguema, à frente de um grupo de soldados rebeldes.
Com uma lista infindável de acusações e suspeitas lançadas por países, ONG’s e instituições internacionais – corrupção, abuso de poder, tortura, violação de direitos humanos, fraude eleitoral, desvio de fundos são algumas delas –, Obiang eliminou muito cedo todos e quaisquer opositores, ou eventuais opositores, e concorreu sozinho às presidenciais de 1982 e 1989. Em 1996 permitiu outras candidaturas, mas isso não o impediu de vencer as eleições e consolidar o seu poder autoritário nas votações seguintes, com números esmagadores: 98% em 2002, 97% em 2009 e 94% em 2016.
Teodoro Obiang já não caminha para novo, pelo que crescem os rumores de que poderá ser o filho e atual vice-presidente, Teodorin, a concorrer às presidenciais de 2022 – ele que foi recentemente condenado a três anos de pena suspensa, em França, por crimes de corrupção e desvio de dinheiros públicos.
Escalar até ao topo e confiscar cordas e escadas
Paul Biya (35 anos) – A renúncia de Ahidjo, em 1982, fez do primeiro-ministro Biya presidente do país. Foi reeleito em 1984, 1988, 1992, 1997, 2004 e 2011.
País: Camarões
Idade: 84 anos
Chegada ao poder: Sucessão por via constitucional
Ao longo da História não foram poucas as vezes em que vimos um aprendiz superar o mestre, e a relação entre Paul Biya e Ahmadou Ahidjo é um exemplo certeiro de um episódio dessa categoria. Quando, em 1962, Biya deixou Paris – onde se formara em Direito – e regressou aos Camarões para participar ativamente nos primeiros anos de independência do país, o presidente Ahidjo aceitou recebê-lo como assessor.
Orientado de perto pelo chefe de Estado, subiu em 20 anos todos os degraus do poder, até chegar a primeiro-ministro. Em 1982, após a renúncia de Ahidjo, por motivos de saúde, Biya foi conduzido à presidência por força do disposto na Constituição dos Camarões e, no ano seguinte, acusou o seu antecessor de estar a organizar um golpe contra ele. Ahmadou Ahidjo foi obrigado a abandonar o país, deixando via livre para o novo presidente se enraizar no poder.
Depois de duas reeleições (1984 e 1988) sem oposição, Biya aceitou transformar o sistema político de partido único num sistema multipartidário, decisão que lhe valeu uma vitória suada nas presidenciais de 1992 – apenas 4% de vantagem sobre o candidato da oposição – e as primeiras acusações de fraude eleitoral.
Em 1997, a oposição boicotou as eleições e Biya foi reeleito com 92% dos votos, e em 2004 revalidou o mandato (70%), após novas alegações de irregularidades nas urnas. Quatro anos mais tarde alterou a Constituição para poder continuar a concorrer, tendo sido novamente reconduzido em 2011 (78%).
Um jovem presidente com três décadas de casa
Oweri Museveni (31 anos) – À frente do Exército de Resistência Nacional, Museveni afastou Obote do poder em 1986. Em 2016 foi reeleito para um quinto mandato.
País: Uganda
Idade: 73 anos
Chegada ao poder: Golpe militar
“Como posso abandonar uma plantação de bananas que eu próprio plantei no momento em que ela começa a dar fruta?” Foi com frases como esta – proferida em janeiro de 2016, na corrida ao quinto mandato presidencial consecutivo – que Yoweri Museveni foi justificando, ano após ano, a “necessidade” de se manter no poder. A chegada à presidência do Uganda aconteceu em 1986, cinco anos depois de abandonar o governo – era ministro – e iniciar a luta armada contra Milton Obote, e a saída ainda não tem data marcada, pesem embora as repetidas promessas de não se candidatar ao mandato seguinte.
A estratégia de Museveni para vencer todas as eleições realizadas entre 2001 e 2016 passou por minar a credibilidade do seu principal opositor, Kizza Besigye, e apoiar as incontáveis ordens judiciais e de detenção de que aquele foi alvo. Na corrida ao ato eleitoral do ano passado, porém, foi necessário um estratagema adicional, por culpa da sua idade.
A Constituição do Uganda estabelece um limite de 75 anos para um candidato presidencial e a oposição garante que Museveni tem mais cinco anos do que diz, mas o próprio defendeu não saber exatamente quando nasceu, pelo facto de os seus pais serem “iletrados”. A data oficial foi definida como 1944, Museveni candidatou-se e venceu Besigye.
Mostrar-se à população como alguém mais jovem do que aparenta já tinha sido, na verdade, uma estratégia seguida anteriormente: em 2010 chegou a lançar o seu próprio rap.
Outros aspirantes
Denis Sassou-Nguesso
Podia muito bem fazer parte do grupo de cima, não tivesse “interrompido” o seu longo reinado durante cinco anos, na sequência de uma derrota eleitoral. Presidente da República do Congo entre 1979 e 1992 e a partir de 1997, Sassou-Nguesso conta com um total de 33 anos no poder e 20 consecutivos.
Omar al-Bashir
Chegou à presidência do Sudão em 1989, depois de um golpe de Estado por si liderado. Alvo de um mandado de captura internacional do Tribunal Penal Internacional e acusado de crimes contra a humanidade, genocídio e crimes de guerra, contabiliza 28 anos sentado na cadeira do poder.
Idriss Déby
A poucos dias de completar 27 anos como presidente do Chade – chegou ao poder em dezembro de 1990 –, Déby pode não se candidatar em 2021. Depois de, em 2005, ter ordenado a abolição do limite de mandatos porque a “nação estava em perigo”, defende agora a reinstauração dessa disposição.
Isaias Afewerki
Primeiro e único presidente da Eritreia – eleito pela assembleia nacional em 1993 –, Afewerki tem caminho livre para continuar a ampliar o seu “reinado”, que já conta com 24 anos. Naquele país impera um sistema de partido único e a “sua” Frente de Libertação do Povo Eritreu continua a controlar todos os setores do poder político.