O paralelismo não é novidade. Rui Rio já o estabelecera quando discursou aos deputados, nas jornadas parlamentares do PSD em Braga. O atual regime – a iii República – tem a mesma idade que o Estado Novo: 42 anos. E sendo a reforma e a revitalização do regime uma das prioridades do candidato a presidente do PSD, Rio gosta da alegoria. “O Estado Novo estava caduco e perro, e foi só preciso um empurrãozinho”, afirmou, em jeito de aviso à possível degeneração do atual regime.
O homem que já disse não ter “a certeza de ainda vivermos em democracia” acrescentou que “felizmente não foi preciso grandes coisas” para a ditadura cair, numa consideração que alguns abrilistas dificilmente subscreveriam. A referência à Revolução dos Cravos, todavia, acabaria por aparecer, ontem, quando Rio discursou na apresentação da sua comissão de honra, em Lisboa. “Nós precisamos de outro 25 de Abril”, defendeu, “um 25 de Abril não militar, mas cívico, para revitalizar a democracia.” A alegoria acabaria por ser completada com uma citação de um “administrador alemão” que Rio conhecera “ali no Ritz” e lhe disse: “Que sorte! Estão em crise”, na medida em que, “quando as coisas estão bem”, ficam depois “por resolver”. E Rio quer resolvê-las.
Numa intervenção mais focada no país do que no partido, Rio falou da competitividade da economia e da coesão social como eixos, por um lado, e da reforma fiscal e da segurança social, que tem em comum com o adversário, Pedro Santana Lopes. A descentralização, também referida, é outra das propostas que partilham.
“Tivemos votações mais próprias do PCP”
O destaque, quando o fatalismo saltou do país para o partido, foi para a “dimensão autárquica”, cuja “implementação” Rio tem como indispensável para sustentar o partido caso “amanhã” haja melhores ou piores resultados nacionais. “Amanhã podemos ser mais ou menos [deputados]”, a implementação local do PSD é que não pode ser descartada, disse o ex-presidente da Câmara do Porto. Em Lisboa e na Invicta, nas eleições autárquicas deste ano, o PSD teve “votações mais próprias do PCP”, lembrou.
Rio lembrou as hecatombes do “PS francês” e do PASOK na Grécia para salientar o risco de vida que o seu partido corre hoje, acrescentando depois que o PSD, como os referidos defuntos, “não é de direita”. Foi daí que veio o primeiro grande aplauso. “O dr. Francisco Sá Carneiro, o prof. Aníbal Cavaco Silva, o dr. Francisco Pinto Balsemão não são homens de direita”, notou, colocando-se na mesma linha, não liberalizando nem estatizando “totalmente”.
A sala esteve carregada de históricos. Manuela Ferreira Leite, Ângelo Correia, Morais Sarmento e o já referido Francisco Pinto Balsemão, militante número 1 do PPD/PSD.
Rui Rio apresentou a sua comissão de honra de candidatura, que será presidida por Paulo Mota Pinto, no Hotel Tivoli, em Lisboa. Sarmento, também na mesa, é o mandatário nacional. Salvador Malheiro, diretor de campanha de Rio e presidente da distrital do PSD de Aveiro, abriu a sessão. Estiveram sentadas mais de 200 pessoas, obrigando a abrir uma sala adjacente.
O deputado Bruno Coimbra, coordenador da volta nacional de Rio, a deputada Rubina Berardo, o deputado Feliciano Barreiras Duarte, o presidente interino do PSD de Lisboa, Rodrigo Gonçalves, e o líder do movimento Portugal Não Pode Esperar, Pedro Rodrigues, marcaram presença no evento.
A sessão abriu com a enumeração de todos os nomes da comissão de honra, que ultrapassaram a meia centena, e por ordem alfabética. Grandes nomes do cavaquismo – que mais tarde Rio evocaria -, como Miguel Cadilhe (ex-ministro) e Nunes Liberato (ex-chefe da Casa Civil de Cavaco Silva em Belém) fazem parte.