Uma das guerras mais mediáticas que envolveram Belmiro de Azevedo foi a oferta pública de aquisição (OPA) fracassada da Sonae sobre a Portugal Telecom (PT). E no mesmo mês em que foi anunciada a derrota desta operação, o homem forte da Sonae anunciou a saída da liderança executiva do império: a 20 de março de 2007.
O negócio até poderia ter tudo para correr bem não fosse a resistência de Ricardo Salgado, na altura também ele o homem forte do Banco Espírito Santo (BES), aliado a Henrique Granadeiro e principalmente a Zeinal Bava, que, arregimentando acionistas, contribuiu e muito para o insucesso da operação. Esta morreu no dia em que a assembleia de acionistas da operadora chumbou a desblindagem dos estatutos, já que esta era uma das condições indispensáveis para que a operação avançasse. Henrique Granadeiro, presidente da PT na altura, congratulou-se com o desfecho do negócio, dizendo mesmo que, ao fim de um ano, “a OPA morreu”.
Dois anos depois, Belmiro de Azevedo, numa altura em que a Sonae comemorava os 50 anos, culpou o governo de José Sócrates por ter sido responsável pela decisão mais grave e inesperada ao revelar que o executivo tinha dado “instruções” para que a Caixa Geral de Depósitos votasse contra a OPA. “José Sócrates portou-se mal até porque o Estado, como detentor de uma golden share, nunca deu indicações de se opor ao negócio”, referiu. E deixava uma garantia: desde aí, “nunca mais” falou com o primeiro-ministro: “Não tenho interesse e sou correspondido”, referiu.
O episódio nunca foi esquecido por Belmiro. Em 2014 deixou uma promessa: a história da PT iria ser devidamente contada, mas deixou uma ressalva: não seria por ele. ”A história da PT há de ser devidamente contada, mas não é por mim, é pelos jornalistas. Se eu nunca disse o que se passou, não é agora que vou dizer, quando os jornalistas têm matéria mais do que suficiente para pegar na história”, afirmou.
O empresário deixou uma outra garantia: sempre ganhou dinheiro, mas nesta operação, apesar de ter cumprido todas as condições que foram exigidas, perdeu “por causa de uma coisa” inventada à última hora.
A verdade é que a história, apesar de curta, acabou por lhe dar razão. A OPA está a ser investigada pelo Ministério Público no âmbito da Operação Marquês. O procurador Rosário Teixeira entendeu ter indícios de que José Sócrates terá recebido luvas do Grupo Espírito Santo (GES) como contrapartida pelas ordens que terá dado à Caixa Geral de Depósitos, então acionista da Portugal Telecom com 6,11% do capital, para votar contra o negócio.
A resistência nunca fez sentido a Belmiro de Azevedo, já que, antes da OPA ter sido lançada, falou com o ex-primeiro-ministro devido à dimensão da operação. “Foi a única vez que, com o meu filho Paulo, e pela dimensão do projeto, decidi ir falar com o primeiro-ministro, e por uma razão simples: era uma OPA hostil e um dos acionistas era o Estado, com uma golden share. Se o governo nos tivesse dito nessa altura que não, que seria contra a venda da PT, nós não teríamos lançado a operação. [Sócrates] Ficou muito espantado, elogiou imenso a ousadia da Sonae. Por isso avançámos. Só que, quando mandou votar, deu ordens contra a proposta da Sonae.”
O certo é que foi um negócio perdido mas não significou a derrota neste mercado. Mais tarde, acabaria por resultar com Isabel dos Santos, ao dar origem à fusão entre a ZON e a Sonaecom, atualmente NOS.