A onda de violência que o mundo antecipou em resposta ao reconhecimento americano de Jerusalém como a capital israelita ateou-se esta quinta-feira e esta sexta pode explodir em guerra.
Dezenas de palestinianos e militares israelitas entraram esta quinta em confrontos nas ruas da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém, protestando contra a decisão que Donald Trump anunciou quarta, cortando com a postura internacional e possivelmente acabando de vez com o moribundo processo de paz entre os dois povos.
Dezenas de pessoas, principalmente palestinianas, ficaram feridas, segundo a Cruz Vermelha Internacional. Uma delas encontrava-se esta quinta-feira em estado grave.
Os confrontos desta quinta são apenas um prefácio do que por aí pode vir.
A mais moderada Autoridade Palestiniana ainda está a decidir como responder à manobra americana, mas já convocou “três dias de raiva”, a começarem hoje, sexta-feira de grandes preces e habitual dia de confrontos sérios. O líder da organização palestiniana reconhecida internacionalmente, Mahmoud Abbas, disse que os Estados Unidos se desqualificaram do papel de mediador na paz e, num encontro com o rei da Jordânia, disse que o novo estatuto americano para Jerusalém é “legalmente nulo”.
Abbas quer protestos pacíficos, mas pouco provavelmente os conseguirá. O Hamas, o grupo radical islamita que governa a Faixa de Gaza e por estes dias tenta reconciliar-se com a Autoridade Palestiniana, já deu o derradeiro passo em frente.
À frente das câmaras de televisão, Ismail Haniyeh disse a palavra que por estes dias mais se teme: Intifada, o termo em árabe para “revolta” e, no passado, sinónimo de dois períodos de extrema violência e guerra que deixaram mortas milhares de pessoas – sobretudo entre os palestinianos.
“Devemos convocar e preparar o lançamento de uma Intifada contra o inimigo sionista”, disse Haniyeh, que assegura ter milhares de pessoas a postos para começar a guerra. “Jerusalém foi sempre uma fonte de vitória e o início de revoluções. Trump vai arrepender-se da decisão.”
Resposta
O governo israelita destacou esta quinta batalhões de controlo de motins e disparou várias vezes gás lacrimogéneo, na tentativa de dispersar os grupos de palestinianos. Os principais conflitos ocorreram em Ramallah, cidade cisjordana que muitas vezes é o berço dos movimentos de violência e na qual esta quinta as escolas estavam encerradas e poucos negócios abriram portas. A greve convocada por Abbas foi largamente respeitada, mas a paz, não.
Dois rockets foram disparados a partir da Faixa de Gaza na direção de Israel, mas cairam antes de atingirem o alvo. “Não me deixam ter uma arma para disparar e não posso lançar rockets”, contava esta quinta-feira ao “New York Times” Salwa Helis, professora de 32 anos que, na greve, levou os alunos desocupados para os protestos na Praça de Gaza, em Rammallah. “Por isso estou cá a protestar contra a decisão de Trump e a gritar slogans de solidariedade em nome de Jerusalém, como a capital eterna da Palestina.”
Em Viena, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, voltou a dizer o que na quarta-feira já disse Trump. Ou seja, que reconhecer Jerusalém como a capital israelita, apesar de a ONU e o mundo afirmarem que a zona oriental muçulmana está sob ocupação ilegal, é reafirmar o que já acontece na prática.
Mas Federica Mogherini, representante da política externa da União Europeia, prometeu que nada no contexto europeu mudou e que Bruxelas vai redobrar esforços para alcançar a solução de dois Estados.
“A UE tem uma posição clara e unida. Acreditamos que a única solução realista para o conflito entre a Palestina e Israel é conseguir os dois Estados, com Jerusalém como a capital de ambos”, disse.