O grupo Ricon, um dos maiores grupos têxteis portugueses, com sede e fábricas em Vila Nova de Famalicão e com uma rede de lojas da Gant, está à beira da falência. Em causa estão as sociedades na área da distribuição, como a Delveste – que detém a rede de perto de duas dezenas de lojas Gant no país –, e também as unidades têxteis, como a Ricon Industrial (blazers), a Fielcon (camisas), a Delos (calças) e a Delcon (outwear), que trabalham em regime de subcontratação para várias marcas internacionais. Ao todo estão envolvidos cerca de 800 trabalhadores. O processo de insolvência já deu entrada no tribunal.
Para o presidente executivo da Ricon, Pedro Silva, esta situação deve-se não só à quebra “acentuada” das encomendas por parte da Gant como também à exigência do “pagamento imediato da totalidade da dívida vencida proveniente dos fornecimentos ao setor do retalho”, o que, no seu entender, provocou “um estrangulamento inultrapassável” na tesouraria do grupo e “afetou a capacidade de cumprir as obrigações com os diversos credores”, nomeadamente com a banca.
Criada em 1973 por Américo Silva, a Ricon passou, em outubro de 2008, a ser controlada a 100% por Pedro Silva, depois de um acordo firmado com o irmão, Rui Silva, o outro filho do fundador.
O grupo, que chegou a deter 10,5% do capital da Gant Company, acabou por vender essa participação ao grupo suíço Maus Frères (dono da Lacoste), obtendo uma mais-valia de cerca de 20 milhões de euros e, nessa altura, optou por diversificar para tentar atenuar a grave crise por que passava a indústria têxtil e de vestuário, apostando noutras atividades, como a aviação privada (Everjets) ou os centros da Porsche.
O diretor-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) já veio lamentar a situação, admitindo que não sabia que o grupo Ricon tinha “chegado a este extremo”, lembrando que se trata de uma empresa de referência não só para o setor como para a região.
Já o coordenador do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, Francisco Vieira, fala em “tragédia social” no caso de a empresa fechar portas e recorda o caso da Maconde. “Ainda não sabemos é a dimensão do problema, mas a verdade é que isto me trouxe imediatamente à memória o caso da Maconde [antiga empresa têxtil que empregava centenas de trabalhadores]”, referiu Francisco Vieira.
Mais casos No final do mês de novembro também foi conhecida a situação da Quebramar. A empresa insolvente foi vendida a dois empresários brasileiros, tendo a operação sido aprovada pelos credores. No entanto, o sucesso da operação dependeu do aval do Novo Banco, o principal credor, que detinha 83% (25,1 milhões de euros) dos créditos reconhecidos sobre a cadeia de vestuário.
A Quebramar, detida pela Terra Mítica, aderiu ao processo especial de revitalização (PER) em abril de 2016, com dívidas de mais de 30 milhões de euros.