A ntónio Costa age como se tivesse maioria absoluta. É um facto. Na realidade, durante estes dois anos foram os próprios partidos que apoiam o Governo a proporcionar-lhe essa ilusão: como insistiam que o que os unia era apenas um programa de ‘serviços mínimos’, Costa teve um tapete vermelho estendido para chefiar o Executivo como se tivesse obtido nas eleições votos que chegassem para uma maioria.
É verdade que o país está genericamente satisfeito com António Costa e as sondagens hoje dão-lhe muito mais do que o resultado incrível – no sentido de inacreditável – que o PS obteve em 2015, depois de quatro anos de Governo troika/PSD/CDS. A vitória posterior de Costa, ao conseguir formar Governo e obter resultados económicos consideráveis acompanhados de uma inédita paz social, conseguiu fazer esquecer o facto dos portugueses lhe terem dado apenas 32,31% dos votos contra os 36,86% conseguidos pela coligação que esteve no poder. Com os 10,19% do Bloco de Esquerda e os 8,25% do PCP, Costa conseguiu maioria para governar, para mandar um ministro das Finanças para o Eurogrupo e para ficar no oitavo lugar do ranking dos políticos que «estão a moldar, a agitar e fazer mexer a Europa» elaborado pelo influente site Politico: «Ao contrário de outros socialistas manchados pela associação a tempos difíceis, Costa conseguiu apresentar-se como um campeão da mudança, capaz de ‘mudar a página da austeridade’». O ‘prémio de Costa deve-se também ao facto do primeiro-ministro português ter tido «a capacidade extraordinária de conseguir equilibrar as exigências da esquerda para reverter as medidas austeras da recessão com uma mudança cautelosa, que agradou aos investidores estrangeiros e aos parceiros de Portugal na zona euro».
Costa foi genial na capacidade de conciliar dois opostos – regras de política orçamental europeias ortodoxas e apoio de partidos que recusam as regras de política orçamental europeia ortodoxa. Mas o estado de graça acabou. Desde que o BE acusou o Governo de «deslealdade» o tiroteio não pára de aumentar. Catarina acusa o Governo de estar vendido aos grandes interesses. A confiança acabou. Os dois anos que aí vêm ameaçam ser um confronto permanente.