“Estou completamente tranquilo com a minha atuação ao longo destes anos quer fora, quer dentro do governo.” Assim reagiu Vieira da Silva quando questionado pelos jornalistas sobre o caso da Raríssimas. E nada mais disse, deixando mais esclarecimentos para “o sítio mais adequado, que é a comissão parlamentar”, agendada para segunda-feira.
A situação, por certo, não agradou ao PSD. Hugo Soares, líder da bancada parlamentar, tinha solicitado que o ministro Vieira da Silva fosse ouvido “com caráter de urgência” ainda esta semana. “Julgo que ninguém entenderia que o governo pudesse ir de fim de semana sem dar ao país as explicações que o país exige”, afirmou em conferência de imprensa.
Para o PSD, “é da maior importância, em nome da dignidade das instituições e da própria dignidade do governo, que o ministro Vieira da Silva possa, tão rápido quanto possível,” prestar explicações de forma a “que a indignação geral que o país” sente “possa terminar”.
António Costa veio em defesa do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social afirmando que tem “inequívoca total confiança política” em Vieira da Silva. O primeiro-ministro acrescentou que não é pelo “facto de, enquanto vice-presidente da assembleia-geral há anos atrás, ter participado nesta instituição que vê de alguma forma maculada a sua atividade”. Costa teceu ainda elogios a Vieira da Silva pela “muita experiência, grande capacidade, em todos os domínios e em todos os momentos em que exerceu a sua capacidade governativa”.
A falta de uma reação de Costa ao caso da Raríssimas já tinha sido criticada por Nuno Melo, eurodeputado do CDS. “Não é normal que já se tenha demitido um secretário de Estado, esteja em causa um ministro e o primeiro-ministro se mantenha calado”, afirmou. Porém, sobre a demissão de Manuel Delgado, secretário de Estado da Saúde, Costa apenas disse ter sido “uma decisão do seu foro pessoal”.
Maria Manuel Leitão Marques, ministra da Presidência, pôs, por seu lado, um ponto final no assunto: “O governo não tem mais nada a acrescentar” sobre a Raríssimas, referindo que o assunto “não foi objeto de discussão no conselho de ministros”. “Temos de esperar pelas conclusões da Inspeção-Geral do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social que já foram iniciadas e que esclarecerão essas notícias que, às vezes, são verdadeiramente descontextualizadas”, acrescentou.
Vieira da Silva viu o seu nome envolvido no escândalo da associação Raríssimas por ter sido vice-presidente da assembleia- -geral da associação e, nessa qualidade, ter participado na reunião que aprovou as contas que agora estão a ser investigadas.
Marcelo também recebeu a denúncia
“É muito simples: datado de dia 16, chegou no dia 23, foi carimbado dia 25, chegou, por causa dos feriados, dia 4 de dezembro – a reportagem é três ou quatro dias depois –, chegou no meio de outras denúncias, não tinha nada de específico.” Marcelo Rebelo de Sousa explicou aos jornalistas, com recurso às datas, o processo completo até a denúncia de irregularidades na Raríssimas ter chegado à presidência.
O chefe do Estado afirmou que “é preciso investigar” destacando a urgência da situação. “Não pode levar meses. A auditoria tem de ser mais rápida, não podemos esperar dois meses, três meses, quatro meses, cinco meses, seis meses, porque isso implicaria a morte de uma instituição”, afirmou.
Quando questionado sobre o impacto na credibilidade das instituições, Marcelo respondeu que “o ideal era que o sistema de fiscalização funcionasse antes mesmo de haver denúncias”.