Pedro Santana Lopes não se sentará à mesa com o PS para consensos e pactos de regime até às próximas eleições legislativas. O candidato à liderança do PSD afirmou-o ontem, na apresentação dos nomes da sua comissão nacional de candidatura e da proposta de programa da mesma, revelando que não acredita que esses acordos entre os dois maiores partidos da Assembleia sejam recomendáveis ou possíveios na fase final de uma legislatura.
“Depois na próxima legislatura veremos, não negando eu a importância desses temas [obras públicas, soberania nacional, etc.]. O desejável, em tese, seria que não houvesse rupturas consoante a mudança de governos em matérias tão importantes e que haja acordo entre vários partidos políticos”. Mas não já. “Espero que aconteça na próxima legislatura”, logo, depois de o governo atual ir a votos pela primeira vez.
Falando de Rui Machete, que estava à sua direita e tem historial antigo nesse tipo de acordos de regime, disse Santana: “Aprendemos há vários anos que as grandes reformas e os grandes acordos entre várias forças políticas não devem ser muito falados anteriormente. Os líderes partidários devem ter a dimensão e a capacidade de experiência, diálogo e relacionamento, para saberem perceber os sinais dos tempos e as necessidades de cada sistema”. O ex-provedor da Santa Casa saudou até o eventual papel de Marcelo Rebelo de Sousa na sua futura concretização. “Quando até temos um Presidente da República que pode contribuir para esses acordos”, lembrou, continuando a apelar à discrição para respectiva concretização. “Quanto mais forem falados [os acordos] menos serão concretizados”. António Costa, que muito tem falado de acordos, mas pouco os tem concretizado, acusaria o toque caso estivesse presente.
Távola laranja O formato não foi tradicional. Rui Rio, que também tinha agendada a apresentação do seu programa para este fim-de-semana, foi obrigado a adiar a data por ainda não o ter concluído, pormenor logo aludido por Pedro Santana Lopes ao início. “Nós apresentamos no dia em que anunciamos”, disse. “Enquanto outros baixam o nível no que dizem e no que fazem, nós subimos o nível”, atirou. Questionado pelos jornalistas se se estava referir a Rui Rio, seu opositor, o candidato remeteu “sinceramente” para a última disputa interna do PS, entre António Costa e António José Seguro, e garantiu que só se iria referir-se “a outro alguém” quando esse alguém “tiver ideias para confrontar”; isto é quando Rio apresentar o seu programa. Até lá, nada.
Santana falava à cabeceira de uma mesa oval, ladeado pelo coordenador do programa (Telmo Faria, ex-presidente da Câmara de Óbidos) e Rui Machete (presidente da Comissão de Honra).
Teresa Morais, vice-presidente da direção de Passos e ex-ministra, Miguel Santos, vice-presidente do grupo parlamentar, Paulo Cunha, presidente da Câmara de Famalicão, Tânia Vinagre, da Fundação Champalimaud, e João Marques de Almeida, professor universitário, compunham a meia távola de Santana. Do outro lado, sentou-se a comunicação social. Em redor da mesa, convidados e militantes estavam dispostos em bancadas. “Vão ouvir aqui pessoas que são competentes nas suas áreas, que sabem o que fazer”, assegurou Santana sobre a sua equipa.
Do mesmo modo que defende que o líder de partido não deve falar publicamente todos os dias, – propondo porta-vozes por área programática –, Santana também deu espaço aos membros da comissão. Cada um apresentou o seu eixo de responsabilidade e quando as questões eram mais concretas concedia-lhes a palavra. Mas não se escondeu. Não houve discurso longo, ficando-se pela introdução e conclusão, mas respondeu a quatro levas de perguntas da comunicação social, a quem agradeceu a presença, antes de seguir para um jantar de campanha na Guarda.
Uma das perguntas finais, sobre a eutanásia, mereceu avaliação e opinião. Não desconsiderando a proposta de Luís Montenegro, ex-líder parlamentar do PSD, para um referendo sobre o tema, Santana assumiu ser contra, devido à sua fé católica. “Não me choca nem tenho nenhuma posição de repúdio por essa proposta. No entanto, a minha posição de princípio é a defesa da luta pela vida”, concluiu.