Manda a tradição que na manhã do dia 25 de dezembro, o Papa dedique grande parte da sua mensagem de Natal à reflexão sobre os principais conflitos que atormentam a humanidade. E como não podia deixar de ser, neste ano de 2017, a tradição cumpriu-se. A partir da principal varanda da Basílica de São Pedro, no Vaticano, Francisco não esqueceu os que enfrentaram a guerra na Síria, no Iraque, no Iémen ou na Ucrânia, os que fugiram da perseguição no Myanmar rumo ao Bangladesh, os que se viram atolados em crises humanitárias no Sudão, no Congo, na Nigéria, na Somália ou no Burundi, ou os que continuam dependentes da abertura do diálogo, na Venezuela ou na Coreia do Norte.
O núcleo duro da mensagem Urbi et Orbi – “para a cidade e o mundo” – do Papa centrou-se, no entanto, na Cidade Santa. A decisão da administração norte-americana, anunciada no início do mês, de transferir a sua embaixada em território israelita de Telavive para Jerusalém e de, com esse gesto, reconhecer a cidade sagrada para muçulmanos, cristãos e judeus como capital do Estado de Israel, provocou um prenunciado e advertido tumulto no Médio Oriente e no mundo islâmico, cujas repercussões estão longe de estar terminadas – ainda na semana passada 120 países das Nações Unidas aprovaram uma resolução a exigir que Washington volte atrás na decisão – mereceu a preocupação do líder da Igreja Católica, que voltou a insistir numa solução com vista à “coexistência pacífica de dois Estados” dentro de uma “terra martirizada”.
“Neste dia de festa, vamos pedir paz para Jerusalém e para toda a Terra Santa”, partilhou Francisco com a multidão que se apinhou no Vaticano para o ouvir, citado pelo “El Pais”. “Rezemos para que entre as partes implicadas prevaleça a vontade de retomar o diálogo e para que se possa finalmente alcançar uma solução negociada, que permita a coexistência pacífica de dois Estados dentro de fronteiras acordadas por elas e reconhecidas a nível internacional”, pediu.
O Papa recordou ainda o “sofrimento” que assola as crianças da região, motivado pelas “tensões crescentes entre israelitas e palestinianos”.
Guatemala junta-se aos EUA
Donald Trump deixou de ser o único a reconhecer a Cidade Santa como capital de Israel. Através de uma mensagem partilhada no Facebook, o presidente da Guatemala, anunciou que também aquele país da América Central vai dar início à transferência da sua embaixada de Telavive para Jerusalém.
“Falei com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, [sobre] as excelentes que relações que temos tido enquanto nações, desde que a Guatemala apoiou a criação do Estado de Israel, [e sobre] o regresso da embaixada da Guatemala a Jerusalém”, começou por dizer Morales. “Por isso informo que dei instruções à chanceler para que inicie as coordenações respetivas para que assim seja”, revelou.
Recorde-se que a Guatemala tinha sido um dos nove países a votar contra a resolução de repúdio da ONU aos EUA.