O Manual que a E-Primatur pôs à consulta dos leitores não ensina a degustar bolo-rei de boca fechada, mas oferece boas sugestões para deglutir sapos no local de trabalho. Também não diz como conter corninhos e congéneres respostas gestuais nas bancadas da Assembleia da República, mas dá-nos impagáveis retratos do estado da Nação. Contam já com a provecta idade de 58 anos, mas são de uma actualidade inusitada. Veja-se o capítulo “Roubalheiras e Outras Desonestidades”. Ontem, como hoje, o que mais visivelmente emerge neste admirável compendiozinho é a “choldra nacional”.
Indiferente à regra que proíbe o elogio em boca própria, o precioso volume apresenta-se a si mesmo como “o mais profundo, investigado e detalhado "Manual de Etiqueta" jamais feito em Portugal”. Todos acharão aqui fundamentais ensinamentos, não fosse Vilhena um humorista transversal de leitura obrigatória. Para ele, todas as estrelas.
“No princípio do mundo vivia-se, como todos sabem, na idade da pedra lascada. Deois apareceram os compêndios de etiqueta e o homem entrou na época da pedra polida.”
“Se uma pessoa nos telefona e a conversa começa a azedar, conservemos sempre a calma e as boas regras da linguagem não usando esse português demasiado vernáculo que está tanto em moda. Para encerrarmos o telefonema, bastará dizer, na altura de desligar, duas palavras em tom firme e decidido: “«Vá você».”