Barbara. Ao que a ficção não nos habitua

Crítica de Cláudia Sobral

Não foi agora nem com este filme que Mathieu Amalric se fez realizador. Desde os primeiros anos da década de 1990 que o ator para (quase) todos os filmes franceses vem fazendo o seu percurso do outro lado da câmara. Duas curtas a que se seguiram duas longas:“Mange ta Soupe”, “O Estádio de Wimbledon”, exibido aliás na retrospetiva que o Leffest dedicou na última edição a Amalric, realizador, com outros e uma sessão três “filmes musicais” em que acompanhava Zorn ao longo de sete anos num deles e a soprano canadiana Barbara Hannigan, noutros dois.

Como parte desta mesma senda, da procura da música pelo cinema, vem este “Barbara” que chega agora às salas. Não mais um documentário como nos outros, mas um biopic sobre a cantora francesa Barbara (1930 – 1997), estrela afirmada a partir das décadas de 1950 e 60 em França mas praticamente desconhecida noutros pontos da Europa – não no seu país, onde até já Gérard Depardieu lhe prestou o seu tributo, com “Depardieu chante Barbara”. E atriz para Barbara neste filme que teve a sua estreia na paralela Un Certain Regard em Cannes, foi o realizador encontrar (numa escolha acertada) em Jeanne Balibar, que contracena com ele próprio no papel de Yves Zand, um realizador que, obcecado com a cantora desde a adolescência, parte, como Amalric (e quem será quem quando a história dentro da história tem mais de realidade do que aquilo a que a ficção nos habitua) para a realização de um filme sobre ela. “Barbara” será então este trabalho em progresso. Zand com Brigitte, que é Jeanne Balibar, de novo, quando já tudo se confunde – mas aí está a beleza deste último filme de Amalric.