O cenário repete-se todos os anos: o frio, que ajuda a descompensar algumas doenças, e o aumento das infeções respiratórias trazem uma sobrecarga aos hospitais e o tempo de espera nas urgências é um dos indicadores de dificuldades. Durante o fim de semana prolongado foram vários os relatos de esperas de horas nos serviços de urgência do SNS. Em comunicado, o Sindicato Independente dos Médicos salientou que o “caos é consequência da inação do governo”, recordando que há centenas de médicos à espera da abertura de concursos.
Em causa estão os 540 médicos que concluíram em abril a especialidade hospitalar e que aguardam a abertura de vagas para serem colocados definitivamente no SNS. A estes vieram somar-se os cerca de 150 médicos que concluíram a especialidade na segunda fase de outubro. Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do SIM, não encontra explicação para a demora na contratação de um contingente que já vai assim perto de 700 médicos e sublinha que, a cada dia que passa, aumenta a probabilidade de os recém-especialistas serem contratados para o privado, isto ao mesmo tempo que teme que esteja a aumentar o recurso a tarefeiros para suprir as necessidades no SNS, garantindo assim uma resposta “menos diferenciada”. Ao i, o dirigente sindical denuncia também que tem havido contactos diretos para contratação de médicos que continuam vinculados às instituições como internos, isto antes de a tutela divulgar o mapa de vagas dos locais onde fazem falta.
Além deste problema, o SIM recordou a proposta de serem criadas equipas dedicadas apenas aos serviços de urgência, para evitar escalas desfalcadas. A tutela assumiu para 2018 esse compromisso, remetendo para experiências piloto em algumas unidades.
De acordo com a monitorização dos tempos de espera nas urgências, ontem ao final da tarde os maiores hospitais do SNS encontravam-se com mais de uma hora de tempo médio de espera para doentes considerados urgentes na triagem. No Amadora-Sintra, o tempo médio de espera para pulseiras amarelas – doentes que devem ser vistos em 60 minutos – era de 2h20 e os doentes menos urgentes, com pulseira verde, estavam a ter de esperar em média quatro horas para serem atendidos. Estas médias não refletem as esperas mais prolongadas, com relatos de demoras em alguns hospitais de mais de dez horas.
Em comunicado, a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo fez saber no domingo que a situação se encontrava dentro da normalidade para esta altura do ano. Para ajudar a descongestionar o atendimento e libertar as urgências para casos de maior gravidade, alguns centros de saúde estiveram abertos da parte da manhã, com algumas unidades abertas também do período da tarde. Em dezembro de 2016, o dia com mais idas às urgências foi 26, com 22.600 episódios registados. Em 2017, até dia 27 (último balanço disponível) este recorde não tinha sido superado.