Esta segunda-feira, a corrida aos bilhetes fazia-se a conta-gotas. Pelo facto de o encontro ser num dia de semana não se espera a enchente registada no jogo contra a Académica. Ainda assim, os preços de bilheteira, 5 euros para sócios e 10 para não sócios, permitem a várias famílias assistir a este momento histórico do seu clube. Mesmo que confessem que não acompanhem fervorosamente a equipa da cidade onde nasceram, as boas prestações do Caldas nesta competição tem vindo a atrair a atenção da população.
Rafael é uma destas pessoas. Apanhamos o jovem, que até já representou as cores do clube, a garantir a sua entrada para o estádio através da compra do ingresso no quiosque central da cidade. “Eu acompanho o clube mas não vivamente. Já joguei no Caldas e sempre simpatizei com o clube, mas não vivia os jogos como estou a viver agora”, explica. “Estou a dar mais importância porque agora é uma fase diferente. Quarta-feira [hoje] vou porque é realmente um jogo mais importante”, afirma num momento em que aproveita para revelar a sua aposta para o resultado final. “Fica 1-0, ou então vamos outra vez a penáltis”, ri-se, antes de seguir o seu caminho.
A confiança de Rafael não é, no entanto, partilhada por todos. Américo Bernardino, sócio número 155 do Caldas, e outro jovem, Micael, acreditam ambos que este jogo vai ser “diferente”. Mas nem por isso vão deixar de marcar presença nas bancadas do estádio da Mata hoje à tarde.
Sócio 155 alerta para jogo difícil Aos 70 anos, Bernardino, dono de um quiosque com o seu nome e com lugar cativo no Campo da Mata, identifica as dificuldades para o encontro de hoje. “O Farense tem uma boa equipa e são profissionais enquanto os jogadores do Caldas são amadores”, alerta. Emocionado por presenciar este momento único do seu clube, o lado mais realista de Bernardino não o deixa entrar em grandes estados de euforia. “Desta vez não estou muito otimista. Estava mais com o Arouca e com a Académica, mas com o Farense vai ser um jogo difícil”, reforça. Enquanto explica os motivos que o levam a duvidar da continuação da prova, entre eles o facto do Farense estar no primeiro lugar da Série E do Campeonato de Portugal, Américo Bernardino lamenta ainda o dia do embate. “É um dia em que as pessoas estão a trabalhar e quando saem já não vão lá para cima [Campo da Mata], não vai estar tanta gente para apoiar a dar aquela moral forte. Aquilo contra a Académica foi um espetáculo!”. O próprio, contudo, tem esse problema resolvido. O quiosque vai estar fechado pois Bernardino, mesmo com as suas dúvidas, quer estar no estádio a apoiar a equipa. Como é, de resto, habitual, mesmo em jogos da Série D do Campeonato de Portugal, prova em que o Caldas segue em oitavo lugar, zona de manutenção.
Aos 28 anos, Micael partilha da mesma angústia que o sócio veterano. Do Bombarral, hoje segue novamente até às Caldas, mas com um grupo de amigos, para apoiar outros colegas. Amigo do guarda-redes, com quem aliás já jogou, Micael reconhece que “o Farense é mais difícil, é uma equipa muito forte”. Nem as duas eliminações frente a equipas da II Liga fazem prever um cenário melhor. “Oxalá que ganhem”, diz Bernardino, que regressa à conversa. Já não falta muito para ficar a conhecer o destino do Caldas na Taça. Micael assistiu ao jogo contra a Académica e já tem os bilhetes na mão para o dia de hoje. Mesmo desconfiado de que este será um jogo de outro nível, Micael já tem as suas preferências no que ao próximo adversário diz respeito. “O Rio Ave!”, atira. Mas, para haver novo desafio, primeiro o Caldas terá de vencer hoje na Mata.