É meio-dia de segunda-feira quando chegamos à Mata Rainha Dona Leonor. Não há a agitação que nos garantem que por ali passa aos fins de tarde e de semana. Lugar privilegiado das famílias para passear, dos jovens para manter o corpo em forma ou de casais para namorar, é ali, dentro daquele parque, que se pode encontrar o estádio do clube da cidade. O Campo da Mata, do Caldas.
De pedra, e com capacidade para cerca de 8000 pessoas, o estádio divide-se por duas bancadas. De um lado a tribuna, para a direção e para sócios com lugar cativo, e à frente as bancadas corridas, para todos os outros que queiram assistir ao jogo. Entre adeptos da casa ou apoiantes da equipa visitante.
Já dentro do campo, a pisar a relva da parte de trás de uma das balizas, é possível observar uma divisão com a porta aberta e identificar o barulho da centrifugação que associamos à máquina de lavar roupa que, nos segundos finais, tem tendência a aumentar de velocidade.
“Faço trinta por uma linha” Embora a porta esteja de maneira a permitir a entrada, ao não vermos ninguém, preferimos bater.
Ouve-se entretanto a resposta vinda de uma sala ao lado: “Bom dia! Pode entrar, entre entre”, sugere. Cláudia Leal é de conversa fácil e com ela a diversão está garantida. Apesar disso, não pára os seus afazeres enquanto nos explica as suas funções. “Isto é a lavandaria, mas é mais conhecida por rouparia”. Bingo, confirma-se o barulho suspeito. Cláudia está há três anos ao serviço do Caldas. Era administrativa, mas por falta de emprego na sua área, o pai, que trata do relvado do estádio do clube há cerca de uma década, apresentou-lhe esta opção.
“Faço trinta por uma linha! Limpo balneários, trato da roupa, abasteço carrinhas, faço sandes, muita coisa, muita coisa! Hoje é essencialmente mais tratar da roupa, porque como foram aos Açores… Agora é lavar a roupa, secar, fazer os cestos porque há treino às sete da tarde”, diz-nos enquanto vai tirando os equipamentos da máquina. “Deixe-me só dobrar isto senão fica já tudo amarrotado”. Cuidadosa e despachada, a metodologia do dia-a-dia está definida. Cláudia é chamada a campo todos os dias às oito da manhã e ter a indumentária da rapaziada pronta é a missão que “não pode falhar”. No total são 24 jovens e, de cabeça, Cláudia consegue garantir que não são menos que seis máquinas por dia.
“Muito motivados” “Cada um tem o seu nome e o número e isto está por ordem numérica, depois cada um vem levantar o seu cesto. Tudo o que sujam metem dentro do cesto e depois no dia a seguir toca de ter aqui o cesto pronto”, sintetiza.
Mostra-se confiante para o jogo desta quarta-feira e “emoção” é a palavra que mais utiliza. Tratando-se de uma verdadeira “faz tudo”, após concluir a tarefa na “rouparia”, faz de nossa cicerone pelos balneários e sala de troféus do clube.
Assegura que os rapazes estão “muito motivados” e que “têm de ter muita força”. As esperanças de Cláudia vão no sentido da continuação desta festa que já se prolonga desde as vitórias ante o Arouca e a Académica. Não faz prognósticos, mas tem fé no Cristiano Ronaldo do clube. “Ele marca os golos, por isso é que eu brinco com ele e digo que é o Cristiano Ronaldo”. Fala sobre João Rodrigues, número 32 da equipa, que esta época já conta com 12 golos (entre Campeonato de Portugal e Taça). Mas depressa relembra: “Eu não tenho preferidos, gosto de todos”.
No fim, o desabafo: “aiii, Deus queira que consigam ganhar!”.