Combinamos encontrar-nos no Hotel da Lapa ao fim da tarde. Isto aconteceu, como é óbvio, já eu tinha sido muito crítico da sua governação em 2004-5, críticas que eu fiz sob o título de “Pobre País o Nosso” e que estão publicadas no blogue Abrupto. Para ter essa liberdade, demiti-me do lugar para que já estava nomeado de Embaixador de Portugal na Unesco, um dos cargos mais cobiçados da diplomacia portuguesa. Não hesitei um segundo e informei a então ministra Teresa Patrício Gouveia mal se soube de que PSL ia substituir Durão Barroso.
O que se passou no Hotel da Lapa ainda teve a qualidade de me espantar. PSL começou com um discurso duríssimo contra Passos Coelho e os seus apoiantes mais proeminentes e manifestou o seu “nojo” pelos “vira-casacas” que ainda há dias eram apoiantes indefectíveis de Manuela Ferreira Leite e agora se estavam a “passar para o Passos”. Entendia que isso revelava a “morte” do PSD e… que era necessário criar um novo partido. Não um movimento, mas um partido. Propunha-me que com ele fizesse esse “novo partido” que poderia vir a concorrer a eleições.
Eu disse-lhe que achava que a coisa não tinha pés nem cabeça. Primeiro, era impossível ter um partido “pronto” para ir a eleições, era preciso assinaturas, organização mínima e filiados. Ele respondeu-me que isso não seria problema, mas a resposta revela que era mesmo de um partido que se estava a falar, aliás a palavra usada era “partido”. Depois disse-lhe que pensasse bem se queria ir em eleições contra o PSD, o que ele disse que era mais que justificado pelo que se estava a passar. No fim, disse-lhe que não e acabou a conversa.
Na altura manifestei a minha perplexidade a vários amigos e vim mais tarde a saber que idêntico contacto foi feito a outras pessoas, algumas das quais me escreveram recentemente depois dos ataques que me fez PSL, dizendo-se dispostas a confirmar o que PSL queria fazer.
Umas semanas depois, PSL participava em actividades organizadas por Passos, e isso sim, não me surpreendeu nada.