Durará seis horas e a intensidade será elevada. Depois de uma campanha que foi longa – para alguns, longa demais –, os militantes do PSD (ou do PPD/PSD, consoante o resultado) escolherão hoje o seu novo líder: Rui Rio ou Pedro Santana Lopes. Entre as 14h00 e as 20h00 de hoje, as sedes de concelhia receberão os votos dos ‘laranjinhas’ de quotas regularizadas. E elas foram muitas.
Singin’ in the rain
Pedro Passos Coelho, que decidiu em outubro não se recandidatar à liderança após derrota autárquica, anunciou esta semana que renunciará ao seu mandato de deputado à Assembleia da República em fevereiro, logo a seguir ao congresso que consumará a nova liderança (em Lisboa, na antiga FIL). A tempestade, contudo, ainda não terminou. Para hoje, sábado, o boletim meteorológico dá chuva – e no sentido não metafórico do facto, isso dará problemas a alguns.
A precipitação confirmada para a generalidade do país preocupa, ao que o SOL apurou, os homens-fortes da estrutura de ambas as candidaturas. E porquê? «Como é que vamos levar as pessoas a votar?», lamenta um deles, reservado ao anonimato do seu ofício. Apesar de tanto Rio quanto Santana terem condenado o pagamento de quotas avulso durante a campanha, algumas figuras conhecidas do aparelho não deixaram de servir e o pagamento de quotas até ao prazo permitido disparou na semana final, como o SOL já na altura reportou. O tema do caciquismo foi, nesse sentido, alvo de debate relativamente abrangente no último ano, em torno do processo de eleição da distrital de Lisboa, a maior do país, nesse verão de 2017. O Observador noticiou, com registos de imagem anexos, carrinhas de transporte de militantes para essa eleição também interna. E a verdade é que o peso dos caciques permanece protagonista, incluindo nas diretas de hoje. As quotas foram já pagas. Resta saber se será o clima influenciador do seu impacto.
Brasil pode ser decisivo e resultados só já madrugada
Pretende-se que o resultado se saiba entre as 22h e as 00h00, mas se a diferença entre Rio e Santana for curta – de poucas centenas de votos, como se espera – o partido pode ser obrigado a esperar pela contagem de militantes residentes no estrangeiro, nomeadamente no Brasil, onde se esperam cerca de 600 votantes, sabe o SOL.
O day after da eleição será, aliás, necessariamente marcado pela dimensão dessa diferença. Rui Rio, que preparava a candidatura há mais de um ano – contra Passos ou contra quem quer que surgisse – beneficiaria de uma vitória mais larga, na medida em que elevaria a sua autoridade perante um grupo parlamentar com mais apoiantes de Santana Lopes, na Assembleia da República. Santana, por outro lado, como ‘candidato surpresa’ precisa somente de uma vitória: 1% chegaria.
O desafio começa no dia. As distritais vão abanar, seja para que lado a balança cair, – ou consoante esse lado –, e a bússola de combate virará para outro norte: o Governo do PS e de António Costa. Primeiro eleições europeias, depois regionais e legislativas. Tudo em 2019. Amanhã é o primeiro dia – ou para Rio ou para Santana. O prazo dessa nova vida é que é visto como curto. Miguel Relvas, esta semana, apontou para «dois anos». Dito de outro modo: até perderem em 2019.
Última semana com apoios
Na última semana, em que não é costume conseguir-se apoios de destaque por já não os haver, as diretas de 2018 divergiram.
Pedro Santana Lopes viu o ex-líder parlamentar Luís Montenegro declarar-lhe apoio, quando até o seu sucessor (Hugo Soares) já o havia feito. Montenegro justificou a tomada de posição com a alegada proximidade de Rio ao Partido Socialista («Admitir que o PSD pode ser a muleta deste PS é politicamente suicidário»), sendo que já conhece Santana desde os tempos em que este o convidou para seu vice de bancada, era Luís Filipe Menezes o líder de partido.
No mesmo dia em que Montenegro tornou público em quem votaria, Rio recebeu um apoio também do grupo parlamentar, em que até aí contava apenas com um vice-presidente (Adão Silva). O nome é António Leitão Amaro, que se vinha mantendo equidistante de ambas as candidaturas, mas bastante presente na corrida interna, marcando posicionamento distante do PS e respeitador do feito por Passos Coelho.
«Em Rui Rio valorizo muito a firmeza e autenticidade na vida pública, a credibilidade junto da sociedade portuguesa e, especialmente, o sentido da urgência nas reformas estruturais que o país e o partido precisam», escreveu o social-democrata, concluindo que a partir de domingo trabalhará «lealmente ao lado do escolhido pela maioria dos militantes».
Hoje, sábado, Rio votará as 16h30 e Santana às 14h30.