Viste o Santana?
A Vanessa perguntou-me isto depois da entrevista à SIC. Sim, eu tinha visto o Santana. E o Rio. Separados e juntos.
– É por estas e por outras que eu gosto dele, pá!
Já conheço a Vanessa há demasiados anos para perceber onde é que ela quer chegar. Sempre foi fã do Santana e coisas como a Vanessa e o Santana não mudam.
– Viste o homem a dizer que o que prefere é ouvir música romântica?
Vi. Era uma resposta very typical, vinda do mesmo homem que no meio de uma ação de campanha, salvo erro para a Câmara de Lisboa, comunicou às massas a seguinte mensagem: «Ay, corazón».
– Estás a ver porque é que eu prefiro o Lopes? É que o Rio Rio assusta-me com aquilo do «deixe-me ganhar que vai ver como as coisas são». O que é que o homem quer dizer com isso? Prende toda a gente que o critica?
– Oh Vanessa, o Rui Rio não pode prender ninguém! Pelo menos ainda. Mesmo que que não goste do Ministério Público, isso não quer dizer que queira reservar para si próprio o direito de prender pessoas! Ou que o queira fazer para já.
– Então o que é aquilo que ele disse do «deixe-me ganhar que vai ver como as coisas são»?
– Penso que a ideia é desatar a pôr processos disciplinares a toda a gente que falar contra o líder, se for ele, expulsar pessoas do partido e tal.
A Vanessa mostrou-se então preocupada com a liberdade de expressão interna dos partidos. Eu lembrei-lhe pacientemente que Rui Rio não é conhecido por ser um amante da liberdade de expressão, quer interna, quer externa. Ganhando ele as eleições do PSD, os processos a jornais também vão disparar – haverá sempre uma notícia que Rui Rio achará difamatória, que põe em causa o seu bom nome. Vai ser uma alegria para a malta dos jornais. Nem vamos conseguir trabalhar, todo o tempo disponível será passado no tribunal ou a responder à ERC, coisa que acabará por ser vantajoso para Rui Rio (e para o resto da malta) porque com tanto tempo passado em tribunais resta pouco para fazer notícias. Deixem-no ganhar que vão ver como as coisas são.
– É por isso que eu prefiro o Santana. E as músicas românticas, disse a Vanessa.
E então a Vanessa abriu o Youtube e de quem se lembrou em primeiro lugar foi do Roberto Carlos, o maior cantor romântico da língua portuguesa. Começou a ouvir a «Força Estranha», que Caetano Veloso compôs, cantarolando em cima da voz de Roberto Carlos num tom muito abaixo de sofrível.
– Isto não é tão Santana Lopes? Eu cá acho que é imensamente Santana Lopes.
Eu vi o menino correndo/ eu vi o tempo/brincando ao redor do caminho/daquele menino/eu pus os meus pés no riacho/e acho que nunca os tirei/o sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei
– Estás a ver? Santana é o menino que pôs os pés no riacho.
– E o que é o riacho?, perguntei eu.
– O riacho é o PSD! Ele pôs os pés no riacho e nunca os tirou! E isto não é verdade? Só que nunca conseguiu ser líder a sério. É o que, no fundo, significa aquilo do ‘sol ainda brilha na estrada e eu nunca passei’.
E desatou a cantar, abafando Roberto Carlos:
Por isso uma força me leva a cantar/por isso essa força estranha/por isso é que eu canto, não posso parar/por isso essa voz tamanha
– Percebes que aqui ‘cantar’ significa concorrer à liderança do PSD? É por isso que Santana prefere as canções românticas! Qual Bach, qual Chopin! A música romântica é que verdadeiramente o entende!
A Vanessa prosseguiu o cantarolar: Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista/o tempo não pára e no entanto ele nunca envelhece/aquele que conhece o jogo, do fogo das coisas que são/É o sol, é o tempo, é a estrada, é o pé e é o chão.