Rio, de ja neiro, mas pouco sol.
A vitória de Rui Rio na eleição interna para a liderança de PSD está diretamente entrelaçada com o atual grupo parlamentar (GP), em particular com a direção de bancada.
Do presidente, Hugo Soares, à maioria dos seus vice-presidentes e passando pelo seu antecessor, Luís Montenegro, a direção do grupo parlamentar foi maioritariamente apoiante de Pedro Santana Lopes, isto é, derrotada neste fim-de-semana. Inclusive nos seus concelhos de origem.
Miguel Santos, coordenador político nacional da candidatura de Santana, viu Valongo preferir Rio.
Amadeu Albergaria, de Santa Maria da Feira, também apoiante de Santana e também vice de bancada, viu ‘a Feira’ ir para Rio, colocando, depois da derrota, o lugar à disposição de Hugo Soares.
Hugo Soares, líder parlamentar e presidente da concelhia do PSD de Braga, perdeu a secção, num dos distritos que acabou por mais favorecer Rui Rio. Vilaverde, foi, aí, outro exemplo dramático para os santanistas.
Até na concelhia de Aveiro, cujo presidente de câmara (Ribau Esteves) apoiava Santana, teve mais militantes a votarem Rio. E Espinho, onde o concelho contava com um peso-pesado (Luís Montenegro) a apoiar Santana Lopes na última semana, ganhou por uns escassos 30 votos a Rui Rio. Abreu Amorim e Nuno Serra (presidente da distrital de Santarém) são outros vice-presidentes do grupo parlamentar exemplos do fenómeno.
“É pouco. Muito pouco. Mesmo que Rio não tenha tido uma vitória esmagadora (venceu por 10% com mais de 40 mil votantes), o ‘passismo’ teve uma derrota pesada”, analisa um barão dos ‘laranjas’, ao i. “Rio não ganhou um único debate e tinha tanto ‘aparelho’ consigo quanto Santana. Isto foi voto livre dos militantes. E o voto livre não quis o candidato que herdou o ‘passismo”, conclui, referindo-se, evidentemente, a Santana Lopes, que, segundo contagem feita pelo semanário SOL, tinha 41 dos 89 deputados consigo – enquanto Rio reunira apenas 19 apoios públicos parlamentares.
Mas o partido, está visto, não acaba na Assembleia da República. E é agora a bancada eleita que esteve com Passos que luta pela sobrevivência perante o homem que lhe sucedeu.
Rio afirmara em entrevista televisiva a meio da campanha que não haveria “purga nenhuma”. Mas na semana final o discurso alterara-se para “vão ver como as coisas são”, entre outros avisos àqueles que “hesitaram” e não quiseram depois “avançar”. Dito de outro modo: os altos quadros que ascenderam na estrutura durante o tempo de Passos apoiaram, na sua quase maioria, a candidatura de Santana – ainda por cima com maus resultados locais. Se Rio não tinha uma justificação para a limpeza, certas derrotas só vieram facilitá-la.
Tanto o SOL, há uma semana, quanto o Expresso, esta semana, noticiaram que a direção de bancada, presidida por Hugo Soares, tinha o lugar em risco face à saída de Passos. E também o i já o noticiara no início do ano, devido ao facto de ambos os candidatos (em particular Rio) desautorizarem consecutivamente o líder parlamentar em funções há cerca de seis meses. Primeiro, nas alterações à lei do financiamento partidário; depois, por Rio, no que diz respeito à renomeação de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República. A vitória de Rio, nesse sentido, fragilizou ainda mais a posição de Hugo Soares, que apoiou Santana.
O nome mais provável para suceder a Hugo Soares é Luís Marques Guedes, ex-líder parlametnar. No entanto, figuras como Duarte Pacheco (vice-presidente do parlamento), Feliciano Barreiras Duarte (ex-secretário de Estado e próximo de Rio), Cristóvão Norte (obreiro do sucesso interno de Rio no Algarve), António Leitão Amaro (o único vice de bancada a apoiar Rio, à exceção de Adão Silva) e Luís Campos Ferreira são possibilidades para a direção do grupo parlamentar sob a nova liderança do partido.
Este é, pela natureza do calendário, um assunto que necessitará de decisão breve de Rui Rio e, ao que o i apurou, o recém-eleito já terá procurado junto de conselheiros seus contributos para tal.
Esta semana, José Eduardo Martins, que anunciou que votaria em Rio logo no início da corrida, apontou o nome de António Leitão Amaro numa análise na TSF em que o tema foi abordado. Leitão Amaro, que confirmou o voto em Rio na passada semana, seria, assim, uma ponte entre o novo líder, que endossou, e o anterior governo, cujo trabalho procurou fazer respeitar durante a disputa pela sucessão.
Há, no entanto, (na bancada atual, claro), defensores da manutenção de Hugo Soares. Em declarações à agência Lusa, a ex-ministra Paula Teixeira da Cruz clama “legitimidade própria”, ou seja, uma autonomia do GP face à nova direção.
“A bancada parlamentar tem legitimidade própria, o líder parlamentar é eleito entre os seus pares e o atual líder parlamentar acabou de ser eleito com uma percentagem expressiva e por isso tem toda a legitimidade para continuar”, disse.
Para a ex-ministra da Justiça, que não apoiou qualquer dos candidatos à presidência do partido, seria até “muito estranha” a substituição de Hugo Soares, defendendo que o seu desempenho à frente da bancada lhe confere legitimidade política para continuar.
Carlos Costa Neves, deputado e antigo presidente do PSD/Açores, também à Lusa, apontou: “O grande desígnio de quem ganha é reunir, no sentido de tornar a unir, e um dos elementos centrais é o grupo parlamentar, que está na frente do combate político”, afirmou Costa Neves, que apoiou Santana Lopes na disputa interna. O argumento de Hugo Soares ter sido eleito há somente seis meses é, assim, transversal aos apoiantes da sua manutenção. Os nomes senatoriais e mais jovens olhados como favoritos ao cargo são, na verdade, os mesmos que se escreveram antes do dia em que Soares sucedeu a Luís Montenegro: o já referido Leitão Amaro, o já referido Marques Guedes e o então referido Matos Correia.
Guedes, que já desempenhou a função e tem um perfil institucional facilitador de consensos, viu Emídio Guerreiro, seu próximo, apoiar Rui Rio nas diretas.