Dois homens que se conhecem de longa data dentro do partido. João Montenegro era secretário-geral adjunto do PSD ao mesmo tempo que Salvador Malheiro era (e é) presidente da distrital do PSD de Aveiro. Não trocaram galhardetes durante a campanha interna, ainda que estivessem em lados opostos da barricada.
Montenegro saiu da São Caetano à Lapa (fora também assessor de Passos Coelho no governo 2011/2015) e aceitou o convite de Pedro Santana Lopes para ser seu diretor de campanha. Salvador assumiu o mesmo papel, mas do lado de Rui Rio, homem que apoiava para a liderança do partido há já algum tempo.
Os pontos de vista são, necessariamente, distintos no tom. Mas nenhum ataca o candidato que o outro serviu. João Montenegro enaltece o trabalho feito (a convenção nacional no pavilhão Carlos Lopes, o programa de candidatura nacional independente da moção ao congresso) e Malheiro mostra-se empenhado e otimista nas próximas etapas: ganhou-se o partido quer ganhar-se o país. Mas também manda uns recados.
“Esta é uma grande vitória do PSD, que eu penso que é o partido mais português de Portugal”, diz, em declarações ao i, Malheiro. “E o PSD neste momento está pronto para conquistar Portugal”, garante depois.
“Mas esta é também uma derrota para aqueles que apostaram – apenas e só –na tática, no taticismo, na estratégia, e que olharam para estas eleições como uma forma de lançar uma lebre a dois anos para que depois pudesse surgir uma nova liderança anunciada”, remata.
O toque fica para quem o quiser receber, sendo que não é preciso estar muito atento ao cenário interno do PSD para saber que foi Salvador Malheiro quem ganhou a distrital de Aveiro à ala próxima de Luís Montenegro. E que é Luís Montenegro que tem as fichas apostadas numa candidatura futura à liderança do PSD, com alguns dos seus apoiantes de mira já focada em 2019. Para Malheiro, a vitória de Rio é também uma derrota para eles.
O diretor de campanha de Santana Lopes, João Montenegro, assume que “foi uma caminhada dura, longa, desgastante, feita com pessoas extraordinárias, num ambiente fantástico”.
“Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas não vencemos”, lamenta. “Combater dentro do partido não é fácil. Temos amigos nos dois lados da barricada. Mas a política é mesmo assim”, assume. “Estou de consciência tranquila. Fizemos a melhor campanha interna que alguma vez foi feita no PSD. É isso enche-me de orgulho, porque realmente tínhamos uma grande equipa”, salienta.
“Quem gosta do partido tem a obrigação de estar sempre na linha da frente do combate. E é aí que eu vou estar. A combater por aquilo que entendo ser o melhor para o partido”, promete, em jeito de conclusão.
Voltarão os dois sociais-democratas a encontrar-se?