António Capucho quer voltar ao PSD a seguir ao congresso do partido, que está marcado para os dias 16, 17 e 18 de fevereiro, em Lisboa. “Tenciono voltar, mas só após o congresso. Não me quero precipitar e vou aguardar pelo desfecho do congresso. Tudo indica que poderei, finalmente, regressar ao PSD. Tenho 40 anos da minha vida dedicados ao partido”, afirmou ao i, garantindo que estão “ultrapassadas”as razões que levaram ao seu afastamento.
Capucho manifestou, há muito tempo, o desejo de que Rio Rio chegasse à liderança do PSD e garante que tem “total confiança pessoal e política” no ex–autarca do Porto.
O antigo secretário-geral e líder parlamentar do partido – que foi expulso em 2014 por ter integrado uma lista de independentes nas eleições autárquicas – encara a mudança de liderança com otimismo e espera que sirva para “recuperar a matriz social-democrata”. Para António Capucho – crítico de Passos Coelho –, a nova liderança deve agora transformar o PSD num partido “mais aberto, transparente e democrático” e “recuperar a matriz social-democrata, ou seja, adaptar a social-democracia aos tempos modernos, mas sem cair na direita radical”. Capucho continua a considerar que Passos Coelho foi mais “troikista do que a troika”.
O histórico social-democrata defende ainda que o novo presidente do PSD deve rodear-se de pessoas de “confiança política”, mas “isso não exclui pessoas que estiveram com Passos Coelho. Há muita gente boa que esteve com Passos Coelho e que está de boa-fé, e o desejável é que ele, no congresso, consiga a maior abrangência possível”.
Com Passos e Santana Lopes fora de jogo, o rosto da oposição interna mais visível é o de Luís Montenegro. O ex-líder parlamentar do PSD nos tempos da troika assumiu ontem que Rui Rio não poderá contar com ele para assumir cargos relevantes no partido. “Não estarei fora do combate, mas não estarei na linha da frente.”
Montenegro foi pressionado a candidatar-se contra Rio nestas eleições internas, mas não avançou com o argumento de que “não estão reunidas as condições para, neste momento, exercer esse direito”.
O anúncio de que não seria candidato foi acompanhado pela garantia de que manteria “total equidistância face às candidaturas que vão surgir”, mas acabou por mudar de ideias e, no final da campanha interna, revelou que iria votar em Santana Lopes. Montenegro foi bastante crítico da estratégia de Rui Rio e afirmou que “admitir que o PSD pode ser a muleta deste PS é politicamente suicidário”.
Ontem, no programa que partilha com Carlos César na TSF, o ex-líder da bancada fez questão de afastar qualquer hipótese de integrar a direção do PSD porque tem “algumas divergências públicas relativamente à estratégia política de Rui Rio”.
Passos e Rio Passos Coelho e Rui Rio vão reunir-se hoje, a seguir ao almoço, na sede nacional do PSD. Uma das primeiras decisões do novo líder do partido é se mantém ou substitui o líder do grupo parlamentar.
Hugo Soares, que foi eleito há menos de seis meses, é muito próximo de Passos Coelho e apoiou Santana na corrida interna. Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite já defenderam publicamente que Hugo Soares devia colocar o lugar à disposição. Luís Montenegro discorda dos ex-líderes do partido e defende que “essa coisa de pôr o lugar à disposição do líder do partido não existe”.
Rui Rio optou por não abrir o jogo e quer resolver o assunto com “unidade, mas sem hipocrisias”. Na primeira entrevista que deu após a vitória, na RTP, Rui Rio defendeu que “há elementos dentro do PSD que não estão devidamente aproveitados e que podem dar um contributo muito grande” e também que “é vital ir buscar pessoas fora do PSD”.
O futuro presidente do partido garantiu que vai bater-se pela maioria absoluta e comparou a relação entre os políticos e o eleitorado com um casamento. “É preciso namorar bem para que o casamento dê certo. Se namorar mal e prometer à noiva um Ferrari, férias do outro lado do mundo, uma mansão com piscina, e depois não tem nada para lhe dar, o casamento começa logo mal. Aqui é a mesma coisa.”